Se ainda duvidas houvesse da graça criativa de Pablo DĂaz-Reixa nestes tempos tĂŁo dados a tentativas e procuras solarengas (sim, sim, jĂĄ sabemos que o Priberam diz que solarengo Ă© algo ârelativo ao solar (casa nobre)â ou âaquele que, como serviçal ou lavrador, vivia no solar ou fazenda de outremâ mas nĂŁo dĂĄ com nada dizĂȘ-lo de outra forma) e dignas de celebração, Pop Negro desfaz em muito boa parte essas suspeitas. Porque o segundo disco do espanhol El Guincho Ă© um nunca mais acabar de explosĂ”es com epicentro algures entre a Ăfrica e o Caribe que resultam inevitavelmente â ou nem por isso â num verdadeiro festim pop tingido de mil cores. E, ei, com bom gosto.
Pablo DĂaz-Reixa soube jogar bem os trunfos neste Pop Negro que de sombrio tem pouco ou nada tem. Soube deixar o riacho correr mais em direcção das cançÔes (cada vez mais assumidas, cada vez mais directas e imediatas), soube gerir as suas influĂȘncias a seu favor â e ser mais El Guincho do que outra coisa qualquer â e soube atĂ© dosear a quantidade. Com menos de 34 minutos, Pop Negro tem o timing exacto para ser um disco entusiasmante do inĂcio atĂ© ao fim. Quase sem excepçÔes. E quando em âBombayâ ouvimos Pablo DĂaz-Reixa dizer âno te vayas a china que allĂ no tienen cortinasâ sabemos que estamos no sĂtio certo. Por momentos parece que esta Ă© a Ășnica saĂda possĂvel para os males que assolam o dobrar de 2010 para 2011. Spanish do it better.
CançÔes como âBombayâ, cocktail que sĂł podia mesmo ser servido com uma cobertura de steel drum bem generosa, âNoviasâ, espĂ©cie de queixume caribenho que Ă© espĂ©cie de mĂĄquina do tempo rumo a dias de sol que Ă© espĂ©cie de impossibilidade infinitamente melĂłdica ou âSoca del Eclipseâ, canção tipicamente enganadora ao inĂcio mas totalmente recompensadora na altura em que tantas cançÔes se decidem (no refrĂŁo, claro), chegam para encher as medidas de quem na pop vĂȘ uma espĂ©cie de escape, de quem acha que o indie deve sair das suas barreiras e molhar os pĂ©s nas ĂĄguas mais quentes, e para dar uma chapada de luva branca em quem achou que Alegranza foi apenas um golpe de graça cheio de cagança. âFM Tan Sexyâ, mais ou menos a meio do objecto, Ă© quase um pedido derradeiro e um alerta: ponham mais sexo nessa, desculpem o estrangeirismo, Frequency Modulation, por favor.