2010 foi uma desilusão. Prometeram-nos uma coisa, deram-nos outra. Não que tivesse sido mau, mas por todo o alarido e expectativas criados em torno de Tomboy, o disco que o panda mais fixe do mundo deixou amadurecer para o triste ano de 2011 – e se for. E assim se foderam dois anos? Não. A vida é do caraças. Não é que, na impossibilidade de termos o anterior, o segundo panda mais fixe à face da terra não vai de modas e sai da toca para desafiar o primeiro. “Para quem era 2010, Panda Bear?”, pensou. Bom, isto é pura especulação.
Derwin Panda, o humano por trás do bicharoco, é tido como um tipo pacato, assim para o transtornado, estando consecutivamente a passar por crises de identidade artística. Mas isso não o impediu de compor Lucky Shiner, o culminar de um trabalho iniciado três EPs antes, por entre heterónimos ou personalidades distintos. Bastidores aparte, certo é que o disco é prova da viagem emocional – e física, até – que Derwin tem vindo a concretizar para o Japão. A mistura de ideias, conceitos, é tão bem conseguida que misturar sushi com batatas fritas já não é crime nenhum – veja-se a proliferação de restaurantes japoneses com passadeira rolante onde tudo mora. Pelo menos para o segundo panda mais fixe do mundo.
“You”. Sem dúvida o tema mais orelhudo de Lucky Shiner, em que o sampling, o chillwave e uma certa dose de repouso se fundem num só, apoiados em loops que trazem na memória algo de muito bom, muito saudável. “Vanilla Minus”, logo encadeada, possui um espírito muito mais desprovido de emoção, pelo menos no que à narrativa harmónica diz respeito. Derwin vai viajando, decide abraçar a guitarra acústica por um momento, e logo a seguir se debruça sobre o sampling, novamente.
De facto, Lucky Shiner traduz uma viagem andrógina que o músico não hesita em justificar, a cada momento que passa. Se nos faz franzir o sobrolho, logo a seguir o arqueamento da sobrancelha se desvanece para dar lugar ao conforto inicialmente proporcionado. A dicotomia estranheza/conforto é um dos bens mais explorados no disco, como em “Before We Walked”, em que a batida composta de micro-texturas se acalma, após alguns minutos de pura epifania, para dar lugar a um pad bem mais espacial, astronómico. Logo de seguida, “Marriage”, assente em samples bem mais sorridentes, acompanhado de sintetizadores quase clean e uma batida a roçar o house, é mais um momento de descontracção.
À sua maneira, Gold Panda tende para o lamechas, nem que seja pelo título das músicas. Mas não é do tipo Nicholas Sparks musical. É uma cena mais desenvolvida, intelectual e esteticamente. Derwin leva-nos a viajar, quer queiram ou não, e por si só isso é já um grande mérito. Se não conseguirem, fumem umas merdas e o google earth servirá perfeitamente.