J Dilla pode não ter entrado para o clube dos 27, mas a sua morte e as edições póstumas, mais do que o seu trabalho em vida, elevaram-no a um estatuto de estrela rock; o mais celebrado dos seus discos continua a ser o fantástico Donuts, editado apenas três dias antes da sua morte; por toda a parte nascem tributos, mixtapes, elegias várias a um dos maiores produtores daquilo a que apaixonadamente chamamos hip-hop. De facto, Dilla não é um artista falecido como o costumam ser os artistas falecidos - com ele não existe nunca o que, em bom inglês, se define como milking the cash cow; o revisitar da sua obra é feito por amor à música e não aos topes de vendas.
Timeless não é artista, mas conjunto de artistas e de reinterpretações de músicos vários em modo orquestral, patrocinados pela Mochilla, ajudados pela VTech. Para além de Dilla, também Mulatu Astatke e Arthur Verocai emprestaram já os seus sons. Black Panther style: «bah, então é só uma forma de pôr os branquelas pastosos a ouvir hip-hop!». Embora admitamos que o tratamento dado às suas faixas encontre um ou outro fã que fora do espectro e da salutar convivência social ache tudo isto «música para pretos», Suite For Ma Dukes não pode ser encarado nunca de forma tão simplista (o que seria inclusive um insulto), de parte a parte; é um testemunho à versatilidade de Dilla, ao seu background enquanto apreciador de música clássica e de membro da orquestra da escola secundária. É um álbum de covers diferente de todos os outros álbuns de covers, Graal numa altura em que se multiplicam vómitos como Ramones Bossa Nova e semelhantes. É música de câmara, é hip-hop, é funk, é soul, e é acima de tudo a melhor reinterpretação que poderiam ter feito ao trabalho do mestre e encantador de beats e de junkies desaparecido por doença em 2006.
E tal como nós não serÃamos nada sem Dilla, Dilla não seria nada sem Maureen Yancey, ou seja, Ma Dukes. Mais que ao próprio quiçá, o álbum é um tributo à sua mãe, o que é visÃvel no seu rosto e na emoção lá estampada quando as câmeras a focam (ah, não tÃnhamos dito ainda que é uma edição CD/DVD do concerto ao vivo? Conselho de amigo: vejam primeiro o DVD). Emoção que passa para o maestro de serviço, Miguel Atwood-Ferguson, e para a forma enérgica com que assume o comando. Embora tudo de "Morning Order" até "Hoc N Pucky" oscile entre o bom e o muito bom, com "Untitled/Fantastic" e "Gobstopper" à cabeça, é quando entram os MCs de serviço, neste caso os amigos Dwele e Talib Kweli, que a música de Suite For Ma Dukes entra no domÃnio do estratosférico; novamente, recomenda-se que se assista primeiro ao DVD para perceber como "Stakes Is High" é um tema absolutamente fantástico e o clÃmax perfeito para um concerto que, não duvidamos das liner notes neste caso, deixou muitos membros da plateia em lágrimas. É normal: nós também ficámos. Até sempre, Jay.