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Márcia

2010
Pataca Discos


Em 2009 um EP da Optimus Discos apresentava uma menina que se fazia acompanhar apenas de voz e guitarra, mostrando meia dúzia de musiquinhas. Canções doces, cantadas em português, francês e inglês. O talento era evidente e a fragilidade daquelas músicas não ocultava um potencial imenso. Entretanto essa menina, Márcia Santos, ganhou rodagem com o Real Combo Lisbonense (foram inúmeros os concertos em que participou), e arriscou aventurar-se na gravação de um álbum “a sério”. Márcia foi até Londres, contou com o apoio de Luís Nunes (a.k.a. Walter Benjamin) e João Paulo Feliciano (sim, o mesmo dos Tina & The Top Ten, No Noise Reduction, agora ao leme do Real Combo) e apresenta aqui um trabalho mais arrojado.

Contrastando com a simplicidade do estretante EP homónimo, este álbum é caracterizado pela audácia dos arranjos, que enchem as músicas, que fazem brilhar cada detalhe. Sem novidade, as melodias são viciantes, agarram sem pedir licença. E as palavras entrelaçam-se com as músicas, encaixam na perfeição. Tudo em português, sem medo da língua de Herberto Hélder e Nuno Bragança, palavras que se colam, que se enroscam e sabem soar bem.

Disco diversificado, ora se deixa pairar em ambientes intimistas (como “O Novelo”, coisa de veludo), ora entra por terrenos mais pop (como a excelente “Cabra-Cega”, que cresce e cresce). Herdeira natural da história da música portuguesa, a princesa Márcia assume essa ligação de forma mais clara no tema “Pudera Eu” - há uma directa evocação dos Diva (“amor não vás de mim embora”). Mas mais do que apegada a qualquer tradição, esta música é essencialmente original, suave e fresca. A música portuguesa, a música cantada em português, está bem de saúde, muito bem, muito obrigado.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
30/12/2010