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Baths Cerulean

2010
Anticon


O futuro, diz-nos este revelador 2010, está muito nas mãos dos que têm 21 anos. Will Wiesenfeld vive em Los Angeles e cumpre esse requisito em toda a sua exigência. Apesar da sua curta idade, Will sabe tratar de um beat como quem trata de um filho, como quem dá à luz e trata de criar a mais pequena das criaturas. É que Cerulean, mais do que um disco de batidas (muitas, 14 assim de uma forma absoluta, e boas, todas sem excepção), é um disco de sentimentos. É que está escarrapachado em cada camada que se deita sobre as batidas, em cada frase que por aqui se escuta; é por demais evidente.

Cerulean parece um disco de canções pop atropeladas – elogio, a sério – por batidas - hip-hop vem à cabeça - de refinada escolha. A maravilhosa “Aminals” é o melhor exemplo disso, ao ver-se invadida por camadas sonhadoras de melodia e rasgada imediatamente por batidas incisivas de braço dado com cantares infantis retirados do jardim-de-infância mais feliz da terra. “Animals” é o espelho perfeito de Cerulean: cerebral até ao tutano e, ao mesmo, tempo, sem que se perceba muito bem como nem porquê, directamente ligada ao coração e às veias, a produzir sangue novo a cada segundo. E fresca, fresca como alface. E prova que a música que colhe influências aqui e ali não tem de ser necessariamente derivativa e aborrecida

Uma canção como “Maximalist” (ou outras, é só escolher à vontade do freguês), para além de fazer justiça ao nome, consegue evocar aquela sensação que este nosso querido 2010 insistiu em reproduzir: de engolir a juventude de outros dias, de uma procura de evasão que muito advirá do pesado sentimento geral de peso destes tempos de incerteza. Anda muita gente a precisar de um disco assim. Até a Anticon andava a precisar de um disco assim. Vamos todos a banhos.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
28/12/2010