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Pontiak Living

2010
Thrill Jockey / Mbari


Mas este título é um pouco enganador; o rock drogado dos Pontiak não se arrasta em longas jams psicadélicas que acabem com o stock de parpalhos lá de casa, mas baseia-se em canções simples, que dificilmente passam dos quatro minutos (aliás, tal só sucede em "Pacific"); há riffs decentes, um baixo demolidor, e uma vontade em transcender o género musical a que se decidiu dar o bonito nome de stoner. Para exemplificar, "Beach" é um solene momento acústico, que descamba em "Lemon Lady", incursão pelo doom como definido pelos Electric Wizard. A imprevisibilidade aqui resulta.

Living é o quinto disco em cinco anos da banda liderada por três irmãos que fizeram da sua quinta na costa leste dos E.U.A. um estúdio onde pudessem mostrar ao mundo o seu amor pelo rock n´roll. A julgar por "And By Night", feedback e percussão cósmicos depois do momento blues-rock calmo de "Algiers By Day", o amor será correspondido. Van Carney, quando é chamado a interromper o ciclo instrumental, não destoa. Destoa o chamarem-lhe "álbum conceptual", o que francamente, se o é, não interessa para nada; interessa, isso sim, a dicotomia deserto-noise / campo-folk. A imprevisibilidade aqui resulta, a bold caso não tenham lido.

O som dos Pontiak, mesmo que bastante próximo do dos seus contemporâneos de Palm Desert, é ainda assim único q.b. para suscitar interesse no mais cerebral dos ouvintes ou nos putos que querem é enrolar uns quantos enquanto os pais estão fora. Pese embora a opinião inevitável de que a espaços Living tem falta de peso. Mas, como já descrito duas vezes, e novamente usando exemplos - a transição de "Forms Of The" para "Thousand Citrus", a.k.a. de um tema Neil Younguizado para um riff eléctrico via desabamento de um baixo, prova que a imprev... isso. Além de que Isaiah Mitchell, dos Earthless, dá uma perninha. E quem é que não gosta dos Earthless?


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
27/12/2010