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Jamiroquai Rock Dust Light Star

2010


Libertado das grilhetas de um opressivo contrato editorial que assinara em início de carreira com a Sony Music (a mesma que o descobrira nas ruas de Londres a traficar droga, decerto que mais impressionada com a androginia da voz soul-jazzística à Stevie Wonder de Jay Kay do que propriamente com a qualidade dos estupefacientes que o dito cujo comercializava) e após um longo interregno de 5 anos, como que para recarregar as baterias criativas (lançou Dynamite em 2005 e, para fechar a loja com a Sony Music, ainda autorizou, relutantemente, a compilação High Times de 2006, mera revisão da matéria dada), esperava-se mais e melhor do 7º álbum de estúdio de Jamiroquai, editado em Novembro, com o selo da Mercury.

Que Jay Kay se tinha aburguesado, perdendo grande parte da chama funk, profundidade soul e subtileza acid jazz dos seus três primeiros discos, não por acaso os melhores, já nós tínhamos percebido desde que ele se prestou a colaborar na banda sonora de um intragável Godzilla (1998) de Roland Emmerich, ponto de partida para três outros discos de crescente desapontamento, toldados pela massificação comercial e cada vez mais direccionados para as pistas de dança (passou a soar mais a Donna Summer ou Gloria Gaynor e menos a Stevie Wonder). A mensagem politizada e ambientalista de Emergency on Planet Earth (1993) deu lugar a um hedonismo vazio e onanista de carros desportivos, mulheres espaventosas e luxos supérfluos, com efeitos nocivos sobre a música: a batida sincopada abafou a linha de baixo à Nile Rodgers, perdendo o travo disco sound e travestindo-se de house ordinária. Ainda assim, restava alguma esperança de que Rock Dust Light Star retomasse um pouco do espírito daqueles primeiros tempos de revelação…

Tentativa absolutamente falhada! Letras desinspiradas, um baixo algo mortiço, duas ou três guitarradas country (!), outras tantas baladas lamechas. Por vezes um ambiente de cabaret decadente (no mau sentido da imagem), ou então daqueles espectáculos de casino com artistas ex-famosos que se arrastam em palco, nada de muito recomendável. De resto, replicações quase literais do que já tinha feito, dezenas de vezes. No limiar da redundância. E a culpa era da Sony Music? Pior, parece que não ouve música nova há mais de duas décadas, cristalizado em clássicos que, de tão samplados, tornaram-se música de elevador.


Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com
22/12/2010