Em tempos de tanta abundância musical, tanta oferta (aliada a uma procura que ainda anda a tentar encontrar-se) e tamanha exposição aos mais diversos inputs, as escolhas que fazemos para entrar num disco de forma democrática e informada respondem a estÃmulos cada vez mais apurados e inesperados; incontroláveis até. Pode ser uma capa mais extravagante, pode ser uma campanha viral, pode ser até um post de Facebook, para onde tudo e todos parecem convergir em 2010.
No caso de Twin Shadow foram duas canções (o Youtube agora é que define muitas vezes o que é e o que não é um single, um formato em constante evolução): são elas “Slow†e “Castles in the Snow†(aquele ataque colérico no refrão ficará como um dos momentos mais intensos deste ano musical) e estão cheias – carregadas, até - de bons argumentos, suficientemente bons para atrair muitos até Forget, o disco de estreia deste rapazola nascido na República Dominicana. Infelizmente, o que por lá se encontra para além disso, e esta é a parte menos boa, nem sempre está ao nÃvel destas duas belas peças de fruta, que sozinhas formam um pomar de bons motivos para se gostar ou voltar a gostar de música pop em 2010.
George Lewis Jr. é um tipo matreiro. Matreiro no sentido em que sabe mexer bem os pauzinhos, puxar os cordelinhos para si. Lembra os anos 80 aqui, lembra Morrissey ali, valoriza a estética lo fi enquanto lembra toda a pop do mundo junta. E isso é bom. O que sendo sorte lhe caiu em azar foi ter conseguido duas canções infinitamente superiores a tudo o que escolheu para as acompanhar. É uma bela estreia, entenda-se; mas uma que deixa um certo travo amargo por tudo aquilo que podia ser e não é na sua totalidade. Não corremos o risco de Forget tudo isto, nem nada que se pareça, mas este Twin Shadow já deixou fome. Venha a próxima refeição.