bodyspace.net


Sufjan Stevens The Age of Adz

2010
Asthmatic Kitty / Popstock


Sufjan Stevens dispensa apresentações. Prometeu fazer 50 álbuns, cada um dedicado a um estado norte-americano diferente e ainda não cumpriu. Mas o que é que isso interessa quando surge um trabalho como este último? O homem por trás do genial Illinois escolheu 2010 para surpreender tudo e todos e repescar a experimentação electrónica de 2001, ano do seu belíssimo instrumental Enjoy Your Rabbit. É um adeus banjo, adeus orquestras com cordas, olá electrónica, como estás experimentação? Muito bem, obrigado. Nessa companhia mais glitch, a América que costuma reler sociologicamente torna-se algo mais pessoal, mais no circuito electrónico dos neurónios e do que falha entre eles. Musicalmente, a grande ponte entre o seu som habitual e onde está agora, são sem dúvida os coros, que levitam um Sufjan tão dançável como Hot Chip ou o último Caribou em “I walkedâ€, e outro Sufjan de 35 anos a admitir “Now That I’m Older†enquanto brinca com a voz processada que relembra de imediato Avey Tare, criando uma espécie de música impossível dos Animal Collective, uma espécie de reposta a “What I Would Want? Skyâ€.

É um tomem lá "céu". Mas isto é parte de um disco onde o homem que entrou na cabeça de um psicopata em “John Wayne Gacy Jr.†consegue entrar novamente e a fundo na cabeça de Royal Robertson, um esquizofrénico paranóico, auto-proclamado profeta, que descobriu a arte depois de um desgosto de amor (a mulher deixou-o). O seu talento aliado à doença mental deixou um legado de obras apocalípticas, posters sci-fi, quadros futuristas em estilo banda desenhada alienado com estranhíssimos monstros robots, como o que surge na capa do disco. Um pouco na linha mentora das Vivian Girls e gráfica dos Animal Collective, quando homenagearam o louco Henry Darger para a sua capa de Feels. Aliás, Sufjan também o fez, com música, em "The Vivian Girls Are Visited in the Night by Saint Dargarius and His Squadron of Benevolent Butterflies" na compilação The Avalanche: Outtakes and Extras from the Illinois Album.

E agora eis a mente de outro louco. “Get a real get rightâ€, “All for myselfâ€, o longo épico “Impossible Soul pt 1†(na companhia de Shara Worden dos My Brightest Diamond), entre outras, revelam um genial Sufjan biógrafo mental aos controles de uma nave especial de melodias e anti-melodias, tão bipolares como a beleza dos robots de Robertson. Mas, se há música que melhor define esta introspecção de manicómio space-age é a maravilhosa “I Want To Be Wellâ€, onde Sufjan solta repetidamente um alienado “I’m not fucking around!†entre coros de ânsia por melhoras que soam a real esquizofrenia ao ponto de nos quase enlouquecer também. Aqui, “I’m not fucking around!†tanto funciona para Royal Robertson como para Sufjan dizer ao mundo que o seu já largo leque de possibilidades é ainda maior do que se pensa. Onde irá parar, só o tempo o dirá.


Nuno Leal
nunleal@gmail.com
09/12/2010