Depois das primeiras escutas dedicadas a The Weapons of Math Destruction, quase apetece implicar com os Buffalo Daughter pela quantidade absurda de ideias que trazem até este seu sexto álbum. Nem sempre é fácil encarar o trio japonês (e convidados) enquanto esbanja maneiras de “quitar” o rock com uma vitalidade capaz de provocar inveja em bandas mais anémicas. A contagem de recursos exige um duplo fôlego: ele é a urbanidade da electrónica londrina encarada com o preciosismo japonês, cowbell para calçar os tacões, a traquinice do hip-hop branco (via Anticon), shoegaze e o excelente Morricone da banda-sonora d’O Exorcista II revisitado à velocidade da luz em “A11 A10ne”. A espera de quatro anos, desde o último e algo monótono Euphorica, explica em certa medida o surgimento de todas estas ramificações, e nada parece demasiado estranho para uma investida dos Buffalo Daughter.
NĂŁo admira tambĂ©m que haja tanta fruta na cesta estĂ©tica de uma banda que teve as suas origens na cena de Shibuya-kei, que ficou tambĂ©m conhecida pelo fácil acesso a discos estranhos importados de toda a parte. Mas, ao contrário dos mais representativos discos da fornada Shibuya-kei,The Weapons of Math Destruction parece muito mais interessado em extrair riffs das guitarras do que na pilhagem de samples exĂłticos. No fundo, quer apenas ser rock sem o empate do loop. E essa opção leva a que estes treze temas estejam pejados de hooks e pequenos vĂcios new-wave (de um modo quase "Very Ape", dos Nirvana), mesmo que alguns desses falhem quando o poder de fogo esmorece no Ăşltimo terço do disco (demasiado dilatado pelas faixas bĂłnus tĂpicas das edições japonesas).
É evidente que a promoção discreta de The Weapons of Math Destruction, lançado pela prĂłpria banda na Buffalo Ranch, diminui as possibilidades que o disco tem de ser reconhecido deste lado do mundo (no JapĂŁo o fervor tambĂ©m nĂŁo Ă© o mesmo de outros tempos). É uma pena que assim seja, numa altura em que os Buffalo Daughter parecem finalmente livres das colagens Shibuya-kei (por vezes patetinhas) e prontos para ser uma banda rock adorada pela quantidade e qualidade das ideias. Acaba por ser por aĂ que The Weapons of Math Destruction merece ser comparado a Forgiveness Rock Record, o disco dos Broken Social Scene lançado tambĂ©m este ano. Apesar do primeiro ser tematicamente inspirado pela fĂsica (presumo que o segundo nĂŁo seja), ambos apresentam excelentes indĂcios de como a ideia (e uma produção sábia) pode potenciar o rock sem transformá-lo numa façanha sem alma.