“Le Jeu” Ă© o segundo disco de Balla, uma das muitas encarnações de Armando Teixeira, o mesmo que Ă© (ou foi) parte integrante de Ik Mux, Bizarra Locomotiva, Boris Ex-Machina, Da Weasel e Bulllet. Este álbum de Balla surge quase um ano depois de “The Lost Tapes”, de Bulllet , considerado por alguns como um dos melhores discos dos Ăşltimos anos produzidos em Portugal. Isto significa que para muitos esse continua a ser o seu álbum de maior relevo, sendo este “Le Jeu” disco que nĂŁo se eleva ao mesmo nĂvel. Mas, se tivermos em conta que a mĂ©dia dos trabalhos editados por Armando Teixeira está uns pontos acima da concorrĂŞncia, Ă© fácil perceber porquĂŞ, atĂ© porque, como se sabe, as obras-primas nĂŁo nascem como cogumelos. Despistando isso, “Le Jeu” Ă© pop, Ă© ”chanson française”, Ă© erotismo, Ă© electrĂłnica e tudo o mais que um disco de canções sem complexos pode sugerir. Primeiro, porque se apoia nas bandas sonoras de filmes erĂłticos das dĂ©cadas de 60/70/80 e depois porque tem canções, sobre tudo e sobre nada, onde se desafiam, mais uma vez, as barreiras estilĂsticas. AlĂ©m de tudo isto, Armando Teixeira continua a travar um certo gosto pelo humor, simbolismo e devaneio, que encontra muito poucos adeptos em Portugal. Nesse sentido, a brincadeira com a capa (glosagem do disco “NÂş 2” de Gainsbourg, tambĂ©m experimentada no álbum de Nathaniel Merriwether, “Lovage”) encerra em si uma clara ideia de álbum conceptual, que Ă© devedor simultaneamente daqueles ambientes (Ă s vezes decadentes, Ă s vezes nĂŁo) da mĂşsica francesa e italiana de há duas ou trĂŞs dĂ©cadas atrás, como tambĂ©m de um certo gosto cosmopolita em partilhar os momentos a dois. A dois porque este Ă© um disco a duas vozes: a do prĂłprio Armando Teixeira e a da atĂ© aqui desconhecida Sylvie C., mas tambĂ©m porque existe uma certa carga libidinosa para ser desfrutada com alguĂ©m por perto.
“Le Jeu”, assim sendo, já nem confirmação Ă©. Engloba um conjunto de retalhos onde mĂşsica negra e latina se agarra Ă electrĂłnica de um “Moon Safari” dos Air ou Ă s canções (tambĂ©m quase sempre a dois) de um “Lovage” de Nathaniel Merriweather. SĂŁo samples e orquestrações soul, mas sobretudo pop. A pop de “A Meu Favor”, de “Quero Ser o Teu Volkswagen” ou de “Un Jeu Courtois”. Apetece sempre mais neste grande quadro feito de fatos com estilo, rosas, cigarros, gravatas amarelas, sapatos e sofás vermelhos e pistolas com cabos de madeira. Em “Lovage”, era o chill-out com pitadas a la Mike Patton e Jennifer Charles que imperava, e em “NÂş 2” de Gainsbourg o que ordenava as regras do jogo eram certos ambientes de cabaret e volĂşpia jazzĂstica. Explicar este disco como uma possĂvel confluĂŞncia entre essas duas esferas será uma tarefa muito pouco conveniente e atĂ© mesmo duvidosa, mas poderá ser um bom ponto de partida para a compreensĂŁo do som de “Le Jeu”. Jogo de cumplicidades, de ilusões, de dicas e de concĂlios. Mas, sobretudo, um muito bem elaborado jogo pop.