Quem entra neste disco sem qualquer tipo de conhecimento prévio vai inevitavelmente deparar-se com uma surpresa: Mountain Man não é o nome artÃstico de um qualquer barbudo com camisa de lenhador que vive numa cabana no meio da montanha, rodeado de nada que não neve; mas sim de um trio de meninas que certo dia decidiram pegar em guitarras e cantar canções folk. O que o torna muito melhor por comparação - pelo menos também lhe atribui uma componente visual caso alguém se encontre aborrecido num concerto das ditas. A não ser que as preferências sejam outras e aà já não há mesmo nada a fazer.
Estas duas últimas frases sexistas serviriam como um belo ponto de partida para discutir se as artistas independentes de hoje são aclamadas pela sua proficiência musical ou pelo sex-appeal. Por exemplo, ao passo que numa Scout Niblett será por ambas, numa Joanna Newsom será ocasionalmente pela última. Mas não entremos por aÃ, ainda que as Mountain Man tenham em "Soft Skin" uma bela canção sobre o desejo sexual e um dos versos mais resignados: Can't you understand I'm tryin' to be a good woman?. De facto, o que se retira deste disco são as canções, e mais que as canções, as harmonias vocais das três amigas; com especial destaque para "How'm I Doin", uma espécie de aceno aos antigos barbershop quartets, e "Babylon", que é uma apropriação do Salmo 137. Mais do que o acompanhamento com guitarra, são estes momentos que conferem a Made The Harbor um nÃvel de interesse maior do que num disco "tradicional", por assim dizer.
Também o espÃrito do mesmo contribui para o elogio; entre faixas o silêncio é pautado por risinhos, mudanças de posição, "ready?"s e outras coisas mais que não foram retiradas da gravação - gravação essa feita numa antiga gelataria, só para nos alimentar os sonhos. Uma atitude que retira à s Mountain Man qualquer tipo de pressão para soarem como ou alcançarem o estatuto dos seus compatriotas de Vermont, Sam Amidon à cabeça. Made The Harbor é assim um disco simpático q.b. para se ouvir em hora de descanso. A folk solitária do homem amargurado, quando consumida em demasia, enjoa.
Última adenda antes que se exaltem: o Have One On Me merece ser aclamado por ambas.