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Kpt.michi.gan Player, Player

2003
Aesthetics


Em tempos, o selo Aesthetics era quase sempre sinónimo de qualidade. Projectos como L’Altra, Windsor for the Derby, Hood e Pulseprogramming (estes últimos de forma menos consensual), arrastaram o nome da editora para um patamar venerado por uns e invejado por outros (e aos mais distraídos avisa-se que já se encontra com distribuição em Portugal, pela AnAnAnA). Foi por isso que encaramos este disco com uma sede de descoberta natural, e foi com pena que, sem cativar nem incitar, o sentimento final soube em grande parte a desilusão. Porque não se pode apostar em ruídos que impedem a audição do álbum duas vezes seguidas, ou apresentar um artwork multi-colorido quando o que nos é dirigido não é mais que uma banda sonora para terapias de regressão que se querem falhadas. Não se pode pensar em futuro no presente (como alguns nos querem fazer crer) e não se pode confundir melodias estruturadas com beats alucinados (pretensão de outros). Enfim, não se pode justificar a arte pela arte, a diferença pela diferença.

Michael Beckett é uma daquelas pessoas que só podiam ser alemãs. Nota-se perfeitamente na música e em tudo o que gira em seu redor. É o único elemento responsável pelo projecto Kpt.michi.gan, e como todos os seus conterrâneos, apresenta afinidades com grande parte do universo electrónico da Europa do Norte. Por isso mesmo, é frequente e quase já um hábito vermos Beckett com Schneider TM, inclusive na banda de suporte ao vivo de Schneider TM, S. TM Experience. O primeiro álbum, “Hey Loveâ€, foi editado em 2000 pela Trim, mas desde aí uma série de participações em compilações diversas deram um grande papel de destaque a Kpt.michi.gan. Para além de tudo isto, Beckett é parte integrante de uma banda punk, o que prova que aquele movimento é mais sinal de uma atitude do que uma forma perfeitamente delineada.

As músicas propriamente ditas assentam numa base minimalista experimental, onde podemos encontrar uma distorção que, se por vezes funciona de forma mais ou menos razoável, noutras se demonstra um verdadeiro insucesso. Pertence àquele grupo de electrónica científica que deixa muitas vezes para trás um saudável gosto pelo formato canção e pelo prazer que se retira ao ouvir uma música. Apesar disso, não deixa de ser curioso que a última faixa do álbum recorra a momentos de travo indietronica para elaborar aquela que será a mais audível e interessante música de todo o disco. Mas uma música não pode justificar outras doze, e se é verdade que os computadores trouxeram muitas componentes de excepção, também o é que trouxeram muitas frustrações. Porquê um disco assim? Será que o esgotamento da audição não se revela muito prematuramente (duas ou três audições)? Será que tudo isto valeu mesmo a pena? Pois...


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
19/06/2003