Marcus Lambkin pode ser de tudo um pouco. Menos idiota. Mais conhecido como Shit Robot, o DJ que só queria passar música soube rodear-se de boa gente para iluminar o caminho aberto com From The Cradle To The Rave, primeiro disco do mais recente pupilo da DFA, que apadrinha nomes como LCD Soundsystem, Hot Chip ou Juan Maclean. E estes três nomes não são referidos por mero acaso. Além de serem os mais sonantes, mediáticos e, vá, bem sucedidos, dão um contributo muito especial e decisivo ao disco debutante de Lambkin.
From The Cradle To The Rave não pede mais do que aquilo a que se propõe. Aconselha-se a sua utilização em locais específicos e preparados, de acordo com normas socialmente aceites, para receber mais uma boa dose de techno, house e disco, rótulos que sempre fizeram parte da sonoridade e sucesso da DFA. Uma das grandes malhas do disco é, sem dúvida, aquela que conta com a participação de Alexis Taylor, dos Hot Chip, “Losing My Patients”, num registo menos disco que o restante alinhamento. Mas estão lá os sintetizadores saltitantes, que parecem decalcados duma qualquer faixa do grupo liderado por Taylor – mas bem, diga-se.
Mesmo conduzido segundo linhas bem definidas, o álbum percorre diferentes tendências dance, pés de dança para todos os gostos, por assim dizer, rejeitando aquilo que poderia ser mais um disco de 50 minutos de house, ou techno. A utilização de um riff de guitarra, em “Grim Receiver”, é prova disso mesmo. A malta sabe que o segredo está nas teclas e nas drum machines, mas o risco acaba rapidamente numa mais-valia.
Lambkin é, além de tudo, um gajo cheio de pinta e coragem. Atreveu-se a lançar uma “I Got A Feeling”, sem medo de represálias de Queiroz ou Madaíl. O resultado é nada mais nada menos que oito minutos de puro êxtase em torno de uma voz negra cheia de feeling – sim, queriam a Fergie, mas essa ficou para o Ronaldo –, num house contagiante que prepara a caminha para o triunfante James Murphy, em “Triumph”, que não quis perder pitada da estreia de Lambkin – aliás, o nome Shit Robot partiu de uma brincadeira entre os dois, por causa de uma dança robótica merdosa que Lambkin fazia nos seus DJ sets. Um dia, o tipo dos LCD telefonou ao outro e disse: “Estou a fazer um cartaz. Apareces como Lambkin ou como Shit Robot?”. O gajo não quis ser desmancha-prazeres.
Estórias à parte, é sem dúvida um disco a incluir num qualquer set em que se pretende ter a malta a vibrar. É, para além disso, sinal de que a marca DFA chegou para marcar um ponto na história da música de dança dos últimos anos e Shit Robot já tem lá o nome cravadinho. E, aqui só para nós, isso é que interessa!