O espaço ainda é a última fronteira. É para lá que muitos olham em busca da suprema inspiração. E os The Simonsound não são uma excepção. Também foi para lá que Simon James e Matt Ford lançaram o olhar quando decidiram desempoeirar o velho sintetizador VCS3 e dar-lhe uso na recriação de sons que marcaram os efeitos sonoros de uma geração de ficção cientÃfica por muitos recordada com gracejo mas ainda hoje com uma aura de fantasia inconfundÃvel.
Mas a dupla não se ficou pelos efeitos e decidiu ir um pouco mais além, acrescentando aos sons do VCS3 melodias espaciais criadas a partir do veterano Moog. Tudo sons que bem poderiam ter saÃdo de um Forbidden Planet, de Journey To The Seventh Planet ou de um qualquer episódio de Dr. Who dos anos 60. Juntar-lhe reminiscências de musique concrete, jazz espacial, funk psicadélico, hip-hop com memória das suas trips ou uma pop melancólica a recordar Portishead dos anos 90 foram passos inevitáveis. E não se estranhe que haja neste disco debutante deste duo britânico referências tão simbólicas como Mantronix, Sun-Ra ou David Axelrod.
Reverse Engineering é uma cápsula espacial peculiar que no inÃcio observamos com alguma relutância. Algo nos diz que Malcom Catto dos Heliocentrics já antes usou este veÃculo interestelar para a criação de Out There. Mas as suspeitas depressa se eclipsam. Uma vez dentro da cápsula, rapidamente interiorizamos que os percursos são distintos. Projectados para órbita, e dado o primeiro encontro imediato com esta fantasia cósmica, percebemos que só nesta trajectória seria possÃvel o avistamento de uma deslumbrante supernova capaz de converter o engravatado "Tour de France" (dos Kraftwerk) num "Tour de Mars" de calcinha hippie.
Só pelos primeiros instantes de Reverse Engineering ficamos esclarecidos com o número de órbitas a percorrer pedrados entre a Terra e a cintura de astróides que separa Marte de Júpiter. É isso que nos é dado com simplicidade cénica, texturas retro elegantes e uma verve melódica algo esquizofrénica. É isso que acabamos por contemplar quando nos entregamos aos desejos intuitivos de Simon e Matt no planeamento de uma viagem sonora modular e singular a bordo da cápsula mais cool do momento. Mais um genuÃno manifesto jazz/funk modernista.