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Patrick Pulsinger Impassive Skies

2010
Disko B


A música tem amiúde destes percalços. Porque quando alma se evade da forma corpórea para tentar indagar sem rumo definido, nada mais fica que um espaço escuro em que a criatividade vagueia sem a mínima noção da sua própria utilidade. Veja-se o caso do que poderia ter sido um bem-aventurado regresso de alguém que esteve mais de um decénio arredado da produção própria, preferindo (salvo pontuais excepções) a vivência de engenheiro de som ou função de produtor para gente tão distinta como Patrick Wolf, DJ Hell, Mark Stewart, Freud, Elektro Guzzi (que colaboram neste disco) ou Hercules & Love Affair. Dezasseis anos depois do último álbum de originais o austríaco Patrick Pulsinger regressa à produção própria. E regressa com um ensombrado Impassive Skies.

Este disco é antes demais fruto de várias colaborações. A esse nível são inevitáveis as várias visões sobre o universo pop. E o que aqui podia ser uma mais-valia, não o é. Em Impassive Skies há convidados que são um erro de casting. Nada mais se poderia supor quando no mesmo espaço convivem nomes antagónicos como Fennesz, G-Rizo, Abe Duque ou a desconhecida Teresa Rotschopf. É claro que há um propósito óbvio em enriquecer os ambientes, de criar ambiguidade sonora, de gerar uma especulação que evite as rotulagens imediatas, de criar um universo próprio onde sobressaia uma escrita aprimorada pela independência criativa. Mas tudo fica pelo processo de intenções. Consequentemente temos um alinhamento que perde firmeza e o que poderia ser o valor acrescentado – pela prestação de terceiros – tornou-se numa desvantagem com repercussões na unidade estética do disco.

Impassive Skies perde-se pelo tecnicismo tornando-se assiduamente apático e desapaixonado. Tem os seus momentos instintivos quando Patrick Pulsinger se reencontra com o jazz de outros andamentos. Mas o dispensável electro enxabido imiscuído em techno em tom experimentalista fractura irremediavelmente a realidade pop virtual num céu que se pretendia imperturbável. Talvez sejam mesmo esses pedaços fragmentados que criam as sombras que levam a concluir que falta magnanimidade e alento numa música que procura respeito fora dos circuitos que ditam as modas, mas que nada mais recebe como resposta senão a indiferença. E talvez por isso Patrick Pulsinger já conheceu melhores dias, especialmente quando não se preocupava em excesso com a envergadura da sua criação.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
07/09/2010


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