As garagens estão de boa saúde e recomendam-se. Continuam a abrir os portões e a mandarem cá para fora decibéis de bom rock n’ roll de três acordes e voz desafinada. Ainda para mais num estado dos States onde o que não faltam são garagens (Texas) e onde também nunca faltaram grandes bandas (Austin). Estes Harlem englobam estas duas características. Só o nome dos texanos parece um pouco ao lado, prometendo à primeira algo bem mais funk ou soul power derivada da cor proeminente do bairro nova-iorquino com o mesmo nome, mas não é nada disso que nos dão quando mal avançamos pelo play fora.
O nome do disco também nos enxota para o lado, se não é algo hippie que procura, palavra preconceituosamente mais ligada ao folk ou ao rock psicadélico. Mas não liguem ao nome. Hippies é um manifesto sonoro totalmente garagiano, com requintes lo-fi deliciosos e piscares de olho rítmicos a alguns grandes (por ordem cronológica): The Sonics, Count Five, Flamin’ Groovies, The White Stripes e até a uma certa altura, os Kings of Leon.
Estes últimos, ao segundo disco rebentaram as portas da garagem e saltaram a correr para os estádios do mainstream, no caso destes Harlem, o efeito “catchy” das suas músicas não é tão eficiente para tops como Aha Shake Heartbreak, são mais puros e parece que vão continuar assim. Também ainda não chegaram a Elephant e podem até nem chegar, mas já encaixam honrosamente numa prateleira na companhia do falecido Jay Reatard, dos seus vizinhos Austinenses Strange Boys ou dos Black Lips.