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Cortney Tidwell Boys

2009
City Slang / Nuevos Medios


Como tantos outros adolescentes que lá encontram uma tábua de salvação, Cortney Tidwell descobriu o rock depois de ter assistido à instabilidade mental da mãe, que, ao que consta, passava madrugadas ao piano tocando canções tristes e depressivas; acessos com raízes num distúrbio bipolar diagnosticado pouco depois e que levaram ao seu internamento. Era o lado negro de uma família, dir-se-ia, de sucesso: o avô materno tinha nome feito no circuito country de Nashville, assim como o pai, produtor, e o outro avô, fundador de uma editora; e é esta mistura entre os sons da infância e da adolescência que marca o trabalho da cantora.

A bipolaridade também se encontra em Boys, o segundo disco da norte-americana, depois de um bem-sucedido Don't Let the Stars Keep Us Tangled Up. Entre canções, Cortney traz na voz ora a melancolia que só uma guitarra sabe acompanhar, ora exulta felicidade quando a sua pop toma trajeitos mais eléctricos. Disso exemplo, "Being Crosby" e "So We Sing": a primeira um doce folk acústico (com presença de Jim James dos My Morning Jacket), a segunda pop/rock para se pular de alegria e acompanhar cantando.

Apesar da sua voz (o grande destaque, sem dúvida) permitir a Cortney encarar qualquer estilo ou mistura de estilos sem medo, fica no ar a sensação de que à artista falta-lhe uma escolha mais fincada; o câmbio brusco entre sonoridades provoca uma certa estranheza. Quem ouve "Solid State", a abrir, e tendo lido a sua biografia possível, estaria à espera de folk arrancada às entranhas; ao invés apanha com a synthpop mascavada de "Watusii", ou com o shoegaze de "Palace". Reconheça-se-lhe a criação de boas canções seja qual for o método. Porém, e enquanto disco, Boys não apresenta a cadência desejável. Já como agremiação de canções, nada a assinalar.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
16/07/2010