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The Ruby Suns Fight Softly

2010
Sub Pop / Memphis Industries / Popstock


Os The Ruby Suns quando lançam um disco são de mergulhos em influências e quando mergulham é de cabeça. E a verdade é que se nunca são totalmente refrescantes, até agora, também nunca foram uma banhada, como o seu belo mergulho de 2008 nos Animal Collective e sobretudo Panda Bear a solo – Sea Lion – bem exemplifica. Para alguns soava a mais do mesmo, mas para muitos soou a um toque neozelandês, ainda mais “world” no melhor do que se fazia em pop globalizada e futurista, um outra visão do momento, do que estava a acontecer, porque se formos por aí, até o próprio Panda Bear também não é tão original assim e andava na altura a mergulhar de cabeça em World Music, Caribou e Russian Futurists e estes nisto e aquilo. A música é assim, vive de reciclar influências.

Desculpas à parte, também é verdade que nesta roda viva de influências e influenciadores, o projecto de Sun Ryan McPhun segue mais, imita mais, do que é seguido. Talvez seja um problema de timing, os seus discos saem sempre ao mesmo tempo ou depois de alguma “big thing”. Por isso, este óptimo Fight Softly vai certamente voltar a sofrer esse paradigma de secundariedade, até porque está muito menos versão “o que será o pós-Panda Bear?” e muito mais na crista da “wave” do ano passado tipo Neon Indian ou Washed Out com pitadas de Matias Aguayo e sobretudo, muito mais restyle dançável 2010 de Caribou.

Pois, lá está o “bad timing”: colou-se logo a um nome acabado de lançar um dos melhores discos do ano, sem dúvida um mergulho superior, o grande Swim. OK, também pode ser novamente uma questão de prisma e de como enquadramos este Fight Softly. É que além de Caribou, Sun Ryan mergulha mais uma vez igualmente de cabeça em AC e novidade, novidade, também em AR: Arthur Russell e o seu mágico legado dance-pop de início de 80’s. E esse aproximar melódico a Arthur, audível sobretudo na forma de cantar, confere alguma singularidade e abre um novo espaço de audição além-releitura-de-obras-primas de Caribou ou Animal Collective. E nesse espaço a banda kiwi consegue alguns mergulhos sonora e equalitativamente paralelos numa escala de “quase-quase-quase” como os belíssimos “Cranberry”, “Closet Astrologer”, “Dusty Fruit”, “How Kids Fail”, “Cinco”, "Two Humans", oh pá, de repente quase o álbum todo, o que já não é nada mau. Recomendado a quem não tiver preconceitos, porque se o menu de hoje sabe a Caribou com Arthur Russell e Panda Bear, o de amanhã, só Sun Ryan saberá.


Nuno Leal
nunleal@gmail.com
16/06/2010