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Tape Tum The Night We Called It A Day

2010
Kimi Records


Em 2006 os Tape Tum estreavam-se nestas andanças com um EP editado pela Merzbau (que saudades!), sete temas de electrónica ambiente com tiques noise que lhes valeram presenças em palco ao lado de nomes como Coldcut e Tortoise. Quatro anos e novo mundial de futebol depois surgem em formato longa-duração com The Night We Called It A Day, título que à primeira vista parece sinal de rendição; mas basta ouvi-lo para perceber que essa suposta bandeira branca é uma armadilha. O duo belga aproveitou a licença sabática para se dedicar ao estudo do maravilhoso mundo da pop sonhadora, o que parece ter dado os seus frutos: não são do outro mundo, mas levam-nos lá.

A base electrónica a que não fogem é agora adornada por arranjos multi-instrumentais - ouvem-se guitarras, ouvem-se violinos, ouvem-se trombones, ouve-se uma voz melosa, quasi-infantil, ganchos corais - um manifesto eclético que, mesmo não sendo original (nada mais apropriado que cantem, na primeira faixa, "Tell me something I already know"), resulta aqui muito bem; não fica mal pensar no charme estelar dos Air. Há que lhes dar uma certa razão ao definirem-se como pop concrète: ora atente-se em "Zimmer" e no seu ritmo tropical, chilreios de pássaros e um Game Boy. Deliciosa nostalgia, que de resto perdura ao longo de todo o álbum.

A meiguice (elogio) das canções não se desvanece, nem mesmo nas alturas em que se aventuram por terrenos mais experimentais (se é que se possa chamar "experimental" a um simples sample de ruído, de feedback ou a um eco arrastado). Os olhos estão sempre postos na melodia e no cuidado de fazer com que não prenda a atenção no imediato, mas que fique na cabeça do ouvinte o tempo suficiente para que este mais tarde a trauteie. É o caso de "Spiders": mesmo que não queiramos, amanhã estaremos a assobiá-la no emprego.

Não surpreende - ainda assim é um saldo positivo, como disco de estreia e no campo em que se insere. Destaque para temas como "Wheelchaired", "Yepepe" (o seu momento Animal Collective) ou "Cassis". Para quem aprecia aquele género de electrónica que se dança sentado. O restante é dedicado a shoegazers, stargazers e outros tantos observadores. Vindos de um país que tem dEUS, não lhes fica mal quererem entrar no céu.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
31/05/2010