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The Hold Steady Heaven is Whenever

2010
Rough Trade / Popstock


"We were bored, so we started a band". É desta forma, em "The Sweet Part Of The City", que os Hold Steady resumem seis anos de actividade, cinco LPs, dezenas de concertos e críticas positivas. Nasceram em Brooklyn - para não fugir à norma instituída de que tudo o que interessa vem de lá - a partir de uma ideia de revitalizar e/ou homenagear grupos como os The Band e a E Street Band, ícones da chamada Americana: folk/rock despretensioso e melódico, com ligação à terra e à vida do homem comum. Embora tenham raízes na cena punk, entretêm-se mais a contar histórias do que a exibir mohawks, mas mantêm a vertente enérgica; limitam-se a substituir o moshpit pelo palco de um bar.

Heaven Is Whenever não foge às fórmulas que fizeram dos Hold Steady das bandas mais reconhecidas no circuito independente norte-americano: refrões orelhudos a puxar pelo karaoke, riffs que prendem a atenção e um teclado a fechar quaisquer espaços abertos. Isto não faz uma má canção, muito pelo contrário - mas neles soa banal como qualquer outro hit de rádio. Parece faltar a Craig Finn e à sua lírica (de riqueza acima da média, note-se) a mesma descarga emocional da banda de Springsteen - que é, à cabeça, o ponto de contacto mais próximo. Ao passo que o Boss tatua na carne as agruras da vida, o sentimento desesperado do colarinho branco, os Hold Steady falam do rock n' roll, de paixonetas por empregadas de mesa e de festas de fim de semana como miúdos de quinze anos. Portanto, Springsteen, mas sem o Springs.

No entanto, retratar a sua falta de invenção não é o mesmo que dizer que não cumprem o seu papel. Fazem música para rádios e séries de TV, e não mostram ter vergonha nem pretensões de algo mais. É difícil não esboçar um sorriso, por exemplo, em "The Weekenders": "She said the theme of this party's the Industrial Age / And you came in dressed like a train wreck". Canções enérgicas como "Rock Problems", "Hurricane J" e (a estranhamente adulta) "A Slight Discomfort", que encerra o disco, agradarão certamente a quem não quer mais que uma boa dose de relaxamento pop rock. A lição foi bem estudada, e parecem ter todos os atributos para remar mainstream acima, visto possuírem uma sonoridade tão fácil de se gostar.

Perfeitamente natural que os melómanos mais exigentes e habituados a outros trilhos se aborreçam durante os quarenta minutos do disco, mas não é a eles que este se dirige, e sim aos Rob Gordon deste mundo: "I just want something I can ignore". Quem procura uma pop mais adulta e poética encontrá-la-à nos National; quem tem como objectivo passar uma tarde agradável de sol ou uma longa viagem de carro verá em Heaven Is Whenever um acompanhante com qualidade suficiente para o fazer, ao não prometer mudar a vida de ninguém que o ouça. Nada a apontar nessa vertente.


Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
26/05/2010


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