bodyspace.net


Semuin Circles and Elephants

2010
Ahornfelder


Não é de agora esta vocação que a Ahornfelder tem para os discos que desconstroem a folk como se esta fosse um elemento muito mais valioso e atractivo na sua fusão com a electrónica e deslocada de um formato obviamente pop. É bem possível até que, ao descrever um ou outro disco da Ahornfelder, eu próprio já tenha recorrido à imagem do lúdico que gosta de espalhar os seus ingredientes pelo tapete em vez de equilibrá-los numa torre de perfeita engenharia. Semuin confere.

No seguimento dessa escola previamente instalada, Circles and Elephants, o segundo álbum de Semuin, é tão sonolento, imprevisível e “umbiguista†como grande parte dos lançamentos atribuídos à Ahornfelder. Tal como o próprio selo alemão que o apadrinha, Circles and Elephants é uma linha de relevância flutuante, quase sempre dividida entre uma musicalidade infantil (que inclui vozes distantes de crianças) e uma fome enorme de provocar estragos. Um pouco como um puto rodeado de instrumentos acústicos e computadores (o disco vem carregado de midis) antes de conhecer os rigores da pauta numa aula de educação musical.

O agente de tão disperso roteiro tem o nome de Jochen Briesen e este é o disco que foi gravando no intervalo dos estudos necessários para tirar um mestrado em Filosofia. Por enquanto, Jochen Briesen possui o Bacharelato em Ciências da Ruptura, e quem ouve sofre ou delicia-se com isso, conforme o seu prato. É de ruptura aberta que estamos a falar quando alguém dedica nove faixas a semi-canções e melodias mancas só para, na décima e última, deitar a casa abaixo com a brutalidade noise de um Prurient de velha escola ou outro bastardo parecido com ele. Ah! A subversão bate à porta do círculo do título e deixa então entrar o elefante. Esse que parte tudo. Parte tudo.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
11/05/2010