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Blessure Grave Judged by Twelve, Carried by Six

2010
Alien 8


Editora com um sentido de bom gosto considerável na sua enorme diversidade, sempre foi notório na canadiana Alien 8 espaço para um fascínio premente por tonalidades mais obscuras. Das ambiências pesadas pós-shoegazing dos Nadja, ao black metal esquizóide de Menace Ruine, com passagem pelo noise estático de Daniel Menche, sempre existiu por parte da editora o bom senso de saber escolher aquilo que de mais viável tem vindo a ser resgatado ao desespero e sufoco. Raramente se deixando levar pela opressividade gratuita ou pela pantomina idiota.

Esta estreia do duo Blessure Grave vem em sentido contrário a essa mesma tendência e dá com os cornos no restante catálogo sem qualquer dignidade. Sem incorrer em qualquer sentido de risco ou originalidade, não existe absolutamente nada de louvável em Judged by Twelve, Carried by Six. Verdade crua. A questão da originalidade ou sentido de risco poderia até nem ser um problema, não fosse o facto deste duo canadiano referenciar tudo aquilo que urge esquecer dos anos 80. Nomeadamente esse híbrido parvo pós-pós-punk a que se convencionou chamar gótico. E em larga escala é nessas águas que o álbum se deixa afogar. Entre pesadelos da estética modernaça de O Corvo e (para acabar já de vez com qualquer argumento positivo) discotecas onde “Temple of Love” ainda gera entusiasmo.

Na melhor das hipóteses sente-se vagamente um certo apreço pela dark-folk de uns Death in June, na sua faceta mais gratuitamente taciturna e, por conseguinte, desinteressante. De resto é apontar todos os clichés; da bateria circular e martelada ao reverb da guitarra a pingar azeite, e aquele tipo de voz que não soube muito bem perceber o que fazer com as entoações de Ian Curtis, para as dotar de uma teatralidade digna do exagero de Luís Miguel Cintra nos filmes do Oliveira (será que ele ainda não percebeu que teatro não é cinema?). Os indícios estavam desde logo presentes naquela intro ambiental de teclados tão cheesy que até o Mortiis por momentos pareceu aceitável. Houve um esforço consequente.

Obviamente haverão ainda muitas almas para quem tudo aquilo que apontei como defeitos são pontos a favor num álbum. Para esses e para todos os saudosistas dos Mission ou até Killing Joke a darem uma de avant garde aconselha-se vivamente a audição de Judged by Twelve, Carried by Six. Esquece-lo-ei com a maior das felicidades e não lhe desejo qualquer mal, mas custa perceber que terá feito gente recomendável como Glenn Donaldson (Jewelled Antler) ou James Plotkin associarem-se a tamanha miséria. A pergunta da intro já foi respondida.


Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
23/04/2010


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