bodyspace.net


Ride Psychedelic Sound Waves

2010
/ Flur


Pela ocasião de Beat Journey (2009) já aqui se escrevia que havia “um genuíno desejo de descoberta” na curta viagem que Ride encetava. O EP – convenientemente editado pela Optimus Discos – parecia ter nascido de uma clara intenção de reforçar as diferenças básicas entre um Ride DJ, produtor condiscípulo criador de beats e scratchs para amigos e um Ride produtor auto-suficiente disposto a perder longas horas em laboratório a elaborar a sua própria identidade estética, desassossegado músico – exímio live performer – com desejos impetuosos de se desafiar criativamente, de se superar, de se aventurar no pantanoso terreno das nomenclaturas indefinidas.

Se Beat Journey foi o prelúdio da mudança, um tubo de ensaio, o novo álbum Psychedelic Sound Waves é o derradeiro comprovativo do talento do jovem caldense e, mais importante, do que ele pretende para o seu futuro. E que ilações imediatas se extraem, então, deste singular e solitário objecto numa realidade hip-hop “tuga” frequentemente acanhada criativamente? Uma vez mais é de abertura de espírito de um auto-didacta que se trata, da capacidade de uma mente em absorver e abordar vários géneros musicais e de coloca-los todos num contexto que tem amiúde o hip-hop como um mero ponto de partida.

Para que se esclareça, Psychedelic Sound Waves não é um disco hip-hop na sua essência, como foi, em boa parte, o disco de estreia em 2007, Turntable Food. Esta nova operação é um complexo desfile de estruturas enviesadas, robustas, maximalistas e psicadélicas que suportam as influências da moda – dubstep e a bass music no geral – e dos velhos ensinamentos da "samplagem" e do turntablism que permitem que os espasmos melódicos do techno, o frenesim do drum & bass, ciência breakbeat ou a (única) intervenção de um MC num quadro de funk malhado definam o temperamento psicológico de cada tema. É nessa amálgama sonora de melodias abstractas, raramente de contornos perceptíveis, cadências pujantes e baixos sólidos que Ride se movimenta confortavelmente. É aí que encontrou espaço para se definir e se tornou num autor de alma própria, um nome cada vez menos provável de ficar conotado com qualquer tipologia ou moda, deixando a porta aberta a novas e mais variadas movimentações no futuro.

Psychedelic Sound Waves é directo nos seus intentos, curto e conciso na exposição das suas ideias. E não sendo uma obra retumbante, valeu a pena esperar por este exemplo de determinação e virtuosismo sonoro num país ocasionalmente cinzento; país que pode olhar uma vez mais para um produtor de referência repleto de ideias pertinentes e dele retirar os valores essenciais e a inspiração não apenas para fazer mais, mas para fazer melhor.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
05/03/2010