Um dos bons legados de 2009 foi este I’m Going Away, o regresso dos prolĂficos manos de The Fiery Furnaces ao ponto de partida: canções “indie” pop/rock e “garage piano bar blues”, de arranjos directos, puros e simples, com melodias “catchy” e absolutamente descomplexadas. Regresso ao ponto de partida porque o seu primeiro disco, o excelente Gallowsbird’s Bark de 2003, tinha essa toada, contudo nunca mais assumida por inteiro em discos posteriores, bem mais excentricamente experimentais.
E se essa experimentação resultou maravilhosamente na sua obra-prima Blueberry Boat – álbum conceptual, meio “ópera-rock”, meio uma espĂ©cie de prog-electro-Tin Pan Alley-rock-pop, mesmo assim difĂcil de definir – a verdade Ă© que, salvo a honrosa excepção tambĂ©m ela mais pop comedida da compilação EP, repleta de canções brilhantes, os The Fiery Furnaces perderam-se um pouco e fugiram do foco qualitativo que caracterizou o fulgor criativo inicial. Mesmo assim trouxeram ao mundo Ăłptimos momentos de mĂşsica, com Rehearsing My Choir, Bitter Tea e Widow City.
Mas o foco voltou e em grande. i>I’m Going Away Ă© surpreendentemente coerente do princĂpio ao fim, canções de grande qualidade sucedem-se com uma duração simpática-FM, com letras na sua maioria de Eleanor Friedberger sempre em grande forma mas menos surreais do que no passado, mais terra-a-terra nos temas abordados, sendo os arranjos do mano Matthew igualmente mais previsĂveis e “down-to-earth”, mais soft-rock, muito jukebox anos 70, Fleetwood Mac e afins. Este regresso Ă descomplexidade Ă© brindado com muitos temas inesquecĂveis como “Drive to Dallas”, “The End is Near”, “Even the Rain”, "Lost in the Sea”, pĂ©rolas de um presente bem recente que muitos de nĂłs poderĂŁo presentear pela 1ÂŞ vez em Portugal, daqui a uns bons dias no Santiago Alquimista.