Eventualmente, os elogios dedicados a For Pete’s Sake devem ser repartidos por Mr. Chop e Pete Rock. SĂł a influĂŞncia do segundo sobre o primeiro possibilita um disco de versões entregue Ă porção mais visĂvel de um catálogo - o do produtor e rapper Pete Rock -, que praticamente define o entrosamento do hip-hop com o jazz na dĂ©cada de 90. Todas as investigações nesse sentido sĂŁo obrigadas a passar por Mecca and the Soul Brother, o clássico gravado com CL Smooth, que, logo no primeiro e emblemático single “T.R.O.Y.”, oferecia um curioso verso sobre um amante portuguĂŞs com 14 anos de idade.
Para mais compacta apreciação do cunho de Pete Rock no hip-hop nova-iorquino, aconselha-se a escuta de “The World Is Yours”, indicação fulcral de como o gĂ©nio e tapeçaria de Rock muito contribuĂram para a afirmação artĂstica de Nas logo de rompante com Illmatic. Ao lado de DJ Premier, responsável pela produção da bomba de atitude “N.Y. State of Mind”, o Pete Rock de “The World Is Yours” coroava o flow de Nas, numa temporada em que este parecia realmente o melhor MC do mundo. E tudo isto recorrendo somente a ingredientes caracteristicamente seus: uma batida verdadeira como o seu tempo, um piano enaltecido pelo calor do vinil e um sample de sopro que está sempre a fugir (como as carruagens do metro). Sem nunca comprometer a sua visĂŁo, Pete Rock sofreu mais tarde alguns dissabores, entre os quais um diferendo com a Elektra, que recusou o álbum Center of Attention, alegando que devia conter umas batidas mais Puffy (hoje conhecido por P. “qualquer coisa”).
Mr. Chop parece ter retido essa lição de rebeldia construtiva no modo como aproveita a semente Rock para erguer castelos com um renovado design psicadĂ©lico e groovy, que nĂŁo deixa de ceder alguma margem ao improviso. Determinadas versões recordam atĂ© as jams dos Beastie Boys, durante as sessões em que se refugiavam em Los Angeles rodeados de instrumentos e com vontade de esquecer a Def Jam. Ocasionalmente, as versões incluĂdas em For Peter’s Sake descobrem como contornar os samples mais reconhecĂveis de Pete Rock atĂ© que o clĂmax venha celebrar bem alto o prodĂgio do Bronx. É por isso que o nĂşcleo da fabulosa “T.R.O.Y” passa primeiro pela guitarra e sĂł depois surge na sua forma original (um incrĂvel pedaço de sopro).
O mais significante mérito de For Pete’s Sake acaba por residir na sua capacidade de nos relembrar da grandeza e intemporalidade dos grooves e loops de Pete Rock, numa altura em que cada novo disco de hip-hop parece mais distante da essência da primeira metade dos anos 90. Mr. Chop é particularmente feliz nesta homenagem a Pete Rock, cuja visão ainda ecoa num disco muito mais apaixonado do que ambicioso, tal como o próprio homem.