bodyspace.net


Vampire Weekend Contra

2010
XL Recordings / Popstock Portugal


Em 2008, o quarteto nova-iorquino levou o continente africano para a América como nos bons velhos tempos de Paul Simon. Em Contra, depois de experiências pelo meio – falamos de Discovery, projecto do teclista/guitarrista Rostam Batmanglij, sintetizadores e batidas electrónicas para dar e vender –, os Vampire Weekend apresentam-se renovados. Mas não mudados.

“Horchataâ€, a porta de entrada deste disco, lembra-nos Cape Cod Kwassa Kwassa. Atenção às ilusões: os rapazes ainda gostam de vestir Ralph Lauren e sapatos de vela e fazer música a partir de livros de história que lêem na faculdade – o título de Contra resulta num paralelismo antitético com Sandinista dos The Clash, ambos grupos revolucionários rivais da Nicarágua nos anos setenta e oitenta. Ou seja: a fórmula não foi esquecida. Ainda bem. Semelhanças à parte, a primeira faixa do disco é mais arrojada que a outra. Os ritmos estão mais pujantes, os sintetizadores mais proeminentes e as linhas de guitarra bem mais elaboradas. Isto confere-lhes maior solidez musical. Por outro lado, o disco em si está mais bem produzido que o de 2008.

Se pudermos esquecer a música em si, o trabalho de produção e masterização torna este Contra um disco mais íntegro. E como o empirismo é isso mesmo, “White Sky†ajuda-nos a perceber o que andaram os Vampire Weekend a magicar de há dois anos para cá. O falsete esganiçado de Ezra Koenig é a marca do refrão e a marca da canção. A guitarra apresenta-se clean, staccato e saltitante, o complemento ideal para os sintetizadores em harpejo e bateria distorcida – sim, aqui começa a revolução. É certo que, num ou outro apontamento, o metrónomo que vai além dos andamentos permitidos aos rapazes faça com que o caos reine. Acontece em “Cousinsâ€, a música do vídeo giro, em “California English†e “Runâ€, como o próprio nome sugere. Nesta última, saudamos com agradado o regresso ao ritmo kuduro no refrão, depois da experiência bem sucedida em “Mansard Roofâ€, de Vampire Weekend. Há também os delays e as guitarras ligeiramente distorcidas, como em “Holidayâ€. Não é caso para ataques de pânico. Os acordes nunca variam demasiado. Quatro ou cinco já é puxar muito. “Giving Up The Gun†é claramente uma das faixas singulares de Contra. Pop até dizer chega, dançável como não poderia deixar de ser. As grandes variações encontram-se, como sempre, nos arranjos orquestrais que floreiam toda a sua música.

E como tudo flui com graciosidade, não é com surpresa que chega “Diplomat’s Sonâ€, um dos melhores temas do disco, dedicado a Joe Strummer, ex-super-líder dos The Clash. Funciona à base de kizomba, utilizando um sample de “Husselâ€, de M.I.A. Tem todos os ingredientes e palmeiras que nos habituámos a esperar dos Vampire Weekend. Poder-se-ia dizer, portanto, que Contra é uma versão 2.0 do primeiro registo. Já não é novidade mas antes um upgrade. Assim sendo, bem-vindo.


Simão Martins
simaopmartins@gmail.com
26/01/2010