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Lobisomem Brightest Solids EP

2010
Tall Corn


No terreno da electrónica produzida em casa, um primeiro cartão-de-visita acaba geralmente por ser uma de duas coisas: uma demonstração de certezas ou um ensaio em busca dessas certezas. E a diferença entre as duas é o que distingue os prodígios dos pescadores. Lobisomem recai na segunda categoria, tal é a escassez de ideias concretas no EP de estreia Brightest Solids. Lobisomem atira o anzol a um mar de influências Warp (Prefuse 73, declaradamente) e colhe um polvo disperso em vez do peixe que se desejava.

Existe uma amnistia para os riscos iniciais e, ao escutarmos Brightest Solids, somos obrigados a recordar que alguém como Four Tet demorou tempo até encontrar um rumo seguro para a sua electrónica aberta aos ritmos do mundo. Brad Loving, o disfarce diurno de Lobisomem, convive também com todos os ritmos e a prova disso está na recomendável página Bird and Whale, que o próprio dedica a mixes de diferentes músicos e convidados (muitos deles conterrâneos de Chicago). O acesso a tanta informação não conhece, mesmo assim, reflexo num conjunto de seis temas demasiado extemporâneo e desequilibrado na colagem de beats e sintetizadores em cascata.

Ainda que tente assinar um ou outro movimento distinto, Brightest Solids é muito igual a um peixe a nadar num enorme cardume. O press-release, que o acompanha, refere orgulhosamente a transição do formato digital para a fita analógica, mas em que aspectos isso beneficia a estética do disco permanece um mistério. Existe um longa-duração anunciado para breve, vá lá. Vamos ter de aguardar por outras luas.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
12/01/2010