Os Eddy Current Suppression Ring obrigam a alguns ajustes no capÃtulo rock d’O Livro do Guinness. Acrescento a): independentemente do número de garrafas vazias após uma noite com os Strokes, os Eddy Current Suppression Ring parecem capazes de duplicar o resultado em metade do tempo. Fazem do hooliganismo uma energia positiva e a pretensão das suas malhas de garagem é tão redonda como o zero. Acrescento b): se houver, fora do eixo Siltbreeze-In the Red, uma banda tão capaz de nos provar que o rock não pertence aos metrosexuais, então o Guinness deve realmente ser notificado.
Não foi contudo fácil encontrar heróis entre os rufias. Após algumas investidas pouco ou nada felizes (os Harrisons eram horrÃveis), a picareta da Melodic (de Manchester) embica finalmente numa banda de rock autêntico. A partir das origens do quarteto, podemos até imaginar uma versão punk do bem amado filme britânico Full Monty: na festa natalÃcia de uma fábrica de vinil, três dos operários convidam um colega (Brendan Suppression) para cantar numa jam espontânea. Depois vieram os topes da Austrália (sexto lugar!), prémios nacionais e dois álbuns, o debute homónimo e Primary Colours, que a Melodic trata agora de reeditar em conjunto.
Ainda não houve hype planetário para os ECSR, porque os rapazes nada têm para oferecer ao hype que vampiriza a novidade. Em vez de revolucionária, a estética é a do “pegar e começar a tocar†sem nunca deixar de confiar em São Iggy Pop (“Seek and Destroy†é um molde possÃvel para metade destas canções). Abençoado por isso, Primary Colours necessitou apenas de um gravador de oito pistas para ser um filho-da-puta de disco, que ordena uma mão a aumentar o volume e a outra a tocar air guitar. Com a bomba a puxar ar dos Minutemen e The Fall, os 37 minutos de Primary Colours chegam para tudo. Em “That’s Inside of meâ€, os ECSR esquecem-se das palavras e desbundam à boa maneira do bar porco norte-americano, como faziam os Sebadoh no multifacetado Harmacy . Se não é um clássico, anda perto disso.
No lugar do disco de estreia, o mais cru Eddy Current Suppression Ring é um pouco inferior em termos de momentos memoráveis. Consegue, mesmo assim, ser tão despreocupado como Primary Colours e simples como as necessidades do homem: devora um “Cool Ice Cream†quando bem entende (nisso relembra a pizza dos Turbonegro) e converte histórias comuns em pretextos para riffs excepcionais (o de “Pitch a Tent†é capaz de picar o ex-Vicious Five Edgar Leito). Com tudo isto, sobra a certeza de que os Eddy Current Suppression Ring são uma das mais expressivas garantias de que o rock pelo rock ainda existe. Ãmen.