De Berlim nĂŁo nos chegam todos os dias propostas destas, exploradoras destes territĂłrios. Ou entĂŁo passam despercebidas por entre toda a mĂşsica electrĂłnica que a capital da Alemanha exporta todos os anos. Noise, drones, um primitivismo que fica bem a estes Wooden Veil, que se lançam agora nesta coisa dos discos. E fizeram-no em tempo certo, pois parte daquilo que se ouve em Wooden Veil - foram preguiçosos para o tĂtulo mas felizmente nĂŁo foram para o resto – Ă© bastante excitante. O art group formado em 2007 – e constituĂdo inclusive por Dominik NoĂ© (membro dos krautrockeiros Lustfaust) – entrou com o pĂ© direito num territĂłrio onde todos querem estar.
Bastaria quase “Wooden People” e "Yingliss” como cartões-de-visita para que esta fosse uma viagem tentadora; ambas, exploram um lado primitivo (com muita percussĂŁo, muito ruĂdo belo) que falta muitas vezes Ă dita mĂşsica experimental, e que atrai o corpo e o ouvido numa simbiose perfeita. A voz com toque oriental em “Wooden People” Ă© apenas um dos exĂłticos motivos que fazem este disco um tesouro que se descobre e redescobre a cada novo movimento, a cada investida. Com o bĂłnus tĂpico dos bons discos: nĂŁo se esgota num instante.
Mas felizmente este disco nĂŁo se fica pelos dois temas acima mencionados. “Red Desert” tem um balanço quase country que apetece devorar; “Red Sky” Ă© dona de uma pungĂŞncia quase ancestral; "Moon and Hamburg" tem os minutos mais fáceis de todo o disco; e há quase sempre um bom motivo em cada e por cada um dos 10 temas de Wooden Veil - basta procurar. “Shiverings” prova que este Ă© um disco de busca; de interrogações. Mas Ă© tambĂ©m um disco altamente recompensador para quem acredita que o ruĂdo Ă© sempre um bom local para se encontrar e absorver beleza.