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Amado / Kessler / Nilssen-Love The Abstract Truth

2009
/ Mbari


Em Portugal, como aliás e infelizmente em qualquer país do mundo, há gigantes da música que passam desconhecidos para a maior fatia da população. O fotógrafo e sobretudo saxofonista Rodrigo Amado é um deles. Apesar disso, num percurso cada vez mais reconhecido por uma imensa minoria (onde já ouvi isso?), num trilho prometedor e amplamente merecido, Rodrigo tem-se estabelecido como um nome internacional numa franja não tão popular do jazz, o free, mas sem dúvida a mais genuína e importante, porque a essência do jazz é a liberdade de improvisação.

Essa é a verdade maravilhosa do jazz, seja negro, branco, americano, europeu, de onde fôr, aliás, essa é a base da composição, da genuína música no geral, onde a procura acha, o abstracto explica com clareza, a desconstrução constrói, a solução encontra-se no enigma. Com este The Abstract Truth, Amado, na companhia dos enormes Kent Kessler e Paal Nilssen-Love, demonstra em oito brilhantes estados de alma, como se vai do oito ao oitenta, da calmaria à tempestade, a leme do espírito de missão que absorve um artista enquanto cria.

Sofrer, curtir, conter-se, explodir, o equílibrio instável que resulta em harmonia que tanto se encontra nas abstrações sobre objectos concretos do pintor De Chirico como na homenagem do trio a dois dos seus quadros, “The Red Tower†e “Enigma of the Arrivalâ€. Mas não só aí. Essa magia de abstracção resulta e escorre das entranhas, pés e mãos, mas sobretudo cabeça do trio ao longo de todo o disco. Sem dúvida três nomes de renome que resultam juntos na perfeição. É caso para dizer que quando o contrabaixo Kent se junta com Love à bateria e ao saxofone Amado, o resultado, além de um trocadilho aparentemente fácil, é um disco maravilhoso, aparentemente difícil mas claramente recompensante.


Nuno Leal
nunleal@gmail.com
13/11/2009