Este disco é um lugar estranho. Uma audição bastou para se perceber que estávamos perante qualquer coisa de muito especial, para que o álbum entrasse imediatamente na lista mental dos pré-convocados a melhores do ano. E no entanto passaram-se uns bons dois meses até se conseguir escrever alguma coisa. Esse intervalo de tempo serviu para se tentar perceber exactamente aquilo que ao certo maravilhava naquela música. E todo este tempo não bastou para se chegar a uma conclusão definitiva.
Diz a lenda (ou o Google) que Fuqugi é o projecto a solo do guitarrista Daiki Sakae, que habita nos confins do Sul do Japão e gravou a música toda deste disco apenas com uma Gibson. Produzido em várias camadas, este Gransofa + Nightingale é feito de guitarras lentas que vão desenhando pequenos motivos melódicos. Sakae serve-se de efeitos e overdubs para encher cada uma das faixas na dose certa, que vão ficando irresistíveis nos loops que a melodia vai repescando.
Algures entre um certo pós-rock dormente e o Brian Eno da música para aeroportos, esta música absorve-nos a atenção na sua aparente simplicidade. São quinze instrumentais etéreos, imersos num bucolismo que só pode ser criado por alguém que habita isolado num ponto obscuro do outro lado do mundo. Gransofa e Nightingale foram originalmente editados em separado na editora de autor, mas foram agora reeditados numa edição “a sério”, juntando-se ainda algumas faixas novas. Fuqugi fez bem em insistir, esta música merece chegar a um público bem mais alargado.