Zach Hill utiliza a bateria como amplificador para os ritmos deste mundo e do outro. O homem é incansável. Depois de ter afundado os Hella num coma de esquecimento, à custa de discos tão excêntricos como desinteressantes, Zach Hill transita entre bandas como um saltimbanco alegre. Agora chegou a vez de activar os Chll Pll, na companhia de Zac Nelson dos Hexlove, e o que se sucede é uma combustão de ritmos de robot infalível e electrónica inversamente descarrilada. A caravana passa, sem suscitar bocejos, é verdade, e sem adiantar muito ao que já haviam revelado os igualmente esquizofrénicos Holy Smokes, chefiados – precisamente - pelo suspeito do costume.
É claro que Zach Hill continua a tratar a bateria como se fosse o deus Shiva, aquele que destrói para depois renovar. Desta vez, e considerando a dimensão galáctica de Aggressively Humble, Zach Hill parece, todavia, consumido pelo espírito de Hunter S. Thompson, o jornalista alucinado que ficcionou as suas próprias experiências no livro Delírio em Las Vegas. Ou seja, alguém obcecado com o espaço e suficientemente louco para recriá-lo como um combate permanente entre o virtuosismo e o artifício.
Descendo à terra, é possível constatar que, na capa, o disco promete Ten Rips. Rip significa, no dicionário do rock americano, esfrangalhar destravadamente um núcleo melódico, com o auxílio de guitarra e/ou bateria, e sem qualquer misericórdia. Para entender melhor a medida bruta destes dez rips (eu diria oito), convém saber quem “ripa” ou não. The Hospitals, godheadSilo e Lightning Bolt “ripam”. Os Strokes não. Os Velhos nem por isso.
Aggressively Humble vive de complicações prog semelhantes às que desencaminharam os Mars Volta daqueles que amavam At the Drive-In e do mundo em geral. Não surpreende, por isso, encontrar Zach Hill a "malhar" no mesmo tipo de ritmos faraónicos em Cryptomnesia, o disco deste ano atribuído a Omar Rodriguez Lopez & El Grupo Nuevo, que, na sua essência, equivale a mais uma variante da chapa Mars Volta. A inventividade de Zach Hill dá fôlego a discos cativantes (a mira aqui aponta para os primeiros Hella), mas muito prego no mesmo furo não mantém uma casa de pé (e “Now Then and When” é insuportável como molotov de excessos). Falta alguma conduta a Aggressively Humble. Quando a última faixa “Chll Pll” combina bateria com um sample do avesso (comparável ao clássico utilizado em “Paul Revere”, dos Beastie Boys), sobra o desejo de que o disco tivesse começado onde termina (e também a vontade de conhecer novidades dos nossos One Might Add). O principal problema de Aggressively Humble é ser salada de fruta quando devia ser uma banana convicta.