Há dois anos, depois da edição de Pocket Symphony, os Air revelavam o desejo de fazer um disco mais ritmado. Pois aà está ele pronto a dividir opiniões. Pelo que aqui se desenrola, Love 2 é Air. Disso não há qualquer dúvida. Estão presentes as melodias espaciais e etéreas que remetem para o mais essencial disco da banda francesa (Moon Safari), há momentos de rock progressivo em promiscuidade com um psicadelismo pagão, há electrónica irrequieta a preencher a paleta e há a tÃpica formalidade pop vintage algures entre a música de elevador e a canção clássica. Tudo sem medo de caminhar em terrenos baldios ritmados por Joey Waronker.
Love 2 garante-nos três certezas imediatas: a firmeza da dupla na tentativa de não repetir fórmulas, mantendo os elementos básicos que caracterizam o seu som; o esforço honesto de se manterem independentes, sendo este disco o primeiro produzido exclusivamente pela dupla; e termos em mãos um disco repleto de dualidades estéticas, umas mais interessante que outras.
Neste novo estudo sobre o som, os Air passam o tempo a tentar convencer-nos da firmeza da sua acção sincrónica, acabando por permitir que pequenas e insignificantes excentricidades ganhem protagonismo ("Be a Bee", "Tropical Disease", "Night Hunter", "Eat My Beat"). Por entre a desenvoltura rÃtmica que exploram com mais afinco, ignoram ocasionalmente o que tornou Moon Safari ou Talkie Walkie tão especiais: a gestão do tempo e do espaço que consentiu a ambos uma verve melódica singular, mesmo na insistência dos elementos lânguidos que remetiam o seu som para influências pop/rock do passado. Algo que acabam por repetir com proficiência nos estimulantes "Love", "So Light Is Her Footfall", "Missing The Light Of The Day", "You Can Tell It To Everybody" ou "Heaven's Light", por sinal os temas mais relaxados e inspiradores de confiança.
Havendo uma dose excessiva de pragmatismo - que atravessa o disco do inÃcio ao fim - que corta a desejada eficácia da acção e, consequentemente, o prazer completo que se poderia usufruir, ainda há motivos para Nicolas Godin e Jean-Benoît Dunckel nos fazerem sorrir. Mas se esmiuçarmos a questão, e sendo completamente analÃticos, Love 2, mesmo procurando no disco de estreia de 1998 alguma pureza, divide-se muito entre dois estados de espÃrito – e que raramente têm efeitos benéficos no o produto final. Uma dualidade entre a vivência passada e a necessidade premente da novidade. No fundo um dilema que os coloca entre o que foram no passado e o que desejam ser no futuro. É nesta meio confrangedora realidade que este sexto disco dos Air também está encalhado.
Agradará, com certeza, aos fãs mais tolerantes que encontrarão aqui notas positivas para que se distinga do passado, mas dificilmente Love 2 conseguirá agradar ao comum mortal que ache que pop/rock "retro-piegas" tem algo de pertinente para dizer mesmo que se tente passar a ideia que tudo veio de um coração apaixonado e descomprometido com a razão. No conjunto Love 2 é um disco aceitável, com algumas ideias válidas, mas que está a muitos anos luz de fazer história este ano.