Wayne Shorter é uma figura mor do Jazz, que regressa ao mais
alto patamar, após alguns anos de indefinição e/ou trabalhos menos
conseguidos, sendo esse regresso razão de regozijo dos amantes do
Jazz, pois Shorter é um músico ímpar, e do qual o Jazz precisa ao
mais alto nível.
Shorter é um génio, um predestinado, uma figura que terá
sempre um lugar de destaque na história do Jazz...Curioso é que seja
necessário esperar até 2002 após tantos anos de carreira e tantos
álbuns lançados para podermos desfrutar uma gravação ao vivo desta
lenda viva do Jazz.
Reunindo gravações feitas em 2001, sob a forma de quarteto,
(Brian Blade, John Patitucci e o brilhante Danilo Perez) traz-nos uma
retrospectiva da sua obra, sem que isso signifique qualquer barreira
cronológica ou transição chocante, visto tudo andar em redor do
saxofone de Shorter, que o domina, como se fossem uno, numa música
misteriosa, intrigante e bela. Belo é também o entendimento, a
alquimia entre o grupo, que se sente momento a momento, improviso a
improviso, nota a nota...numa claro troca de ideias, de "disputas",
de provocações, que muitas vezes terminam em pleno êxtase.
Shorter está magnifico, cria, reinventa, dá o mote, dá a base
onde Danilo se mostra atrevido e em plena forma, Blade subtil e forte
enquanto Patitucci não destoa, mostrando-se poderoso. Aqui está
provavelmente o segredo do álbum, a empatia telepática destes
músicos, numa sensibilidade e bom gosto que nunca descamba.
A ter que destacar uma música deste leque tão homogeneamente acima da
média, "Go" seria a opcção, na sua derivação rítmica afro, ou o
hipnótico "Footprints", ou o inesquecível "Juju"...Ou será muito
cruel ter que escolher e deixo-vos a vocês essa árdua tarefa. Eu
apenas posso dizer que este álbum que Shorter constrói como se fosse
um concerto único e contínuo começa por cativar pela sua inteligência
e audácia, mas perdura por conseguir penetra-nos no coração, onde
apenas são permitidas obras de força maior, de uma evidente e forte
inteligência emocional.