Há duas formas alternativas de encarar a música feita por este colectivo de nome pornográfico (não, não vou dizer). Ou se pensa neles como uma banda que tem pouco a fingir que tem muito a fingir que faz pouco, ou como uma banda que tem muito a fingir que tem pouco a fingir que faz muito. Qualquer que seja a opção escolhida, ao menos não ficam dúvidas, no final da audição, que este grupo de músicos ligados aos Secret Chiefs 3, Sun City Girls, etc, é capaz de impôr ao ouvinte um ambiente inescapável de cerimónia pagã, e tudo isso no bom sentido.
Apesar da parafernália de instrumentos empregues, Ă© sobretudo difĂcil escapar Ă parte rĂtmica, composta pela bateria normal, e diversos gamelões. Algo que remete para as performances dos No Neck Blues Band. Já as guitarras, mesmo dividindo-se entre as de toada mais cĂłsmica, e as de espĂ©cie acĂşstica, nunca deixam que o cĂrculo se quebre, fornecendo psicadelismo, mantras acompanhados por cânticos, turbilhões. Em “Schism Prism / Adamantions”, por exemplo, o uso da viola d’arco de Alan Bishop e de uma guitarra mais doomy, recorda os saudosos Noxagt em versĂŁo psych-indiana. E em “People Of The Drifting Houses” estamos numa Bollywood elĂ©ctrica, desprovida de excessos, e de efeito novamente mântrico poderosĂssimo. O acĂşstico e o elĂ©ctrico complementam-se ao invĂ©s de se contrariarem, como Ă© o caso em “Cascade Cathedral”.
Depois de tudo o que já foi dito, pense-se igualmente que falta falar dos mellotrons, tempura drones, flautas, sintetizadores, e perceba-se que esta é uma banda que não deixa o seu espectro sónico ao acaso. É preciso fazer com que quem ouve se queira isolar do mundo, correr as persianas, e balbuciar palavras que não lhe são familiares. É preciso que as frequências queiram saltar para fora do aparelho que toca o álbum. É preciso que a convicção retire qualquer acusação de turismo cultural, ou que o prazer seja tanto que os procuradores públicos fiquem em casa. Já o conseguiram em disco. Agora que tal trazê-los a Sines?