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Quantic And His Combo Bárbaro Traditions in Transition

2009
Tru Thoughts


Não andará propriamente perdido, apenas em busca de um lugar melhor. Talvez assim se entenda o motivo porque Will Holland tenha abdicado da sua recatada vida cosmopolita para indagar o bem-aventurado lugar da inspiração. Acabou por encontrar o que procurava em Santiago de Cali, na Colômbia. Pelo resultado com que nos deparamos agora - que também acaba por ser um feliz culminar de uma série de colaborações com músicos locais - Quantic apresenta-nos aquele que é um dos seus melhores trabalhos de sempre.

Os dois discos anteriores serviram de tubos de ensaio para o que aqui se descobre com genuíno prazer. Tropidélico da sua Quantic Soul Orchestra, já procurava dar uma dimensão mais orgânica às obsessões de Holland pela música da América Latina; enquanto Flowering Inferno absorvia o dub e reggae para um hip-hop em estado de diluição com outras cadências tropicais. E sejamos sinceros: não foram maus álbuns, mas também nenhum deles revelou ao mundo qualquer mais-valia digna de Quantic.

Há muito que Will Holland manifestou o seu talento, arte e engenho na elaboração da sua música. Produtor engenhoso, procura em todos os projectos em que se envolve uma metodologia que permita confluir para uma linguagem única diversas tipologias com origem nas mais diversas zonas do globo, especialmente a América Latina. Uma das virtudes de Will é essa capacidade de sincretismo, absorvendo das culturas locais o melhor que têm para oferecer, fundando assim uma coerente identidade sonora, apesar da mescla colorida que faz sempre questão de exibir.

E que melhor exemplo teremos nós da metodologia de Quantic que este novo trabalho em conjunto com um grupo de bárbaros colombianos onde ainda participam um orquestrador brasileiro (Arthur Verocai), um pianista peruano (Alfredo Linares) e um baterista britânico (Malcom Catto)? De certa forma quase todos já trabalharam com Will no passado e entenderam a sua visão singular da música, mas é neste Tradition In Transition que os astros se alinharam na perfeição. É nesta singela mutação entre os propósitos da modernidade sobre a tradição – a que o título alude – que está o verdadeiro mérito deste disco. Tudo fruto de um esforço colectivo que cozinha em calda tropical tudo o que tenha congas, bongos, trompetes, baixo, bateria ou um saxofone. Onde convergem a cúmbia, a salsa, o samba, o jazz e o funk; tudo convictamente iluminado por uma orquestração perspicaz e vigorosa. É desnecessário pedir mais. Tradition In Transition é um luxo que abraçamos com naturalidade.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
14/09/2009