O ano de 2002 veio confirmar que os novos valores do Jazz vão ganhando posição, em detrimento de grandes figuras históricas, para tal basta observar o trabalho feito por Douglas, Jason Moran, Greg Osby entre outros e retirar o álbum ao vivo de Shorter e Bill Evans e não existirá grande quantidade de produções de extrema qualidade por "habitues".
Como se explica esse facto? Sem dúvida porque estes jovens valores (seria mais correcto valores seguros de tenra idade) souberam evoluir, pisar novos trilhos, adaptar-se e adaptar o Jazz com outros domÃnios musicais, fugindo à fixação obsessiva dos modelos clássicos, ou mesmo ao "bloqueio mental" causado por um complexo em relação ao passado. Porque pensar em música compartimentada é um erro crasso e tremendamente limitador, Douglas traz-nos "The Infinite", que quase se divide em dois capÃtulos: um em que o mundo Pop dá suavemente aos mãos ao Jazz, de forma inteligente e numa clara metamorfose dessas melodias Pop para um jazz ecléctico, e o outro que nos numa renovação de ideias previamente introduzidas por Miles Davis.
Sem qualquer dispromor para as restantes faixas, o meu destaque vai logicamente para a abordagem de versões de Bjork, Mary J. Blige e Rufus Wainwright. A última numa melodia lenta, como se arrastando, destoando com a versão "funky" de Mary J. "unison", de Bjork é sublime, na forma como expõe toda a arte e engenho de Douglas, na forma como encobre/apaga a voz de Bjork. Curioso é Douglas a afirmar peremptoriamente que a sua favorita é "Penélope" e que "Yorke" é uma homenagem a Tom Yorke (Radiohead).
Em linhas gerais este álbum distancia-se dos anteriores pelas suas linhas directas e suaves, e apresenta similaridades com os anteriores, nos escassos momentos em que Douglas sofre do acima referido "bloqueio mental" e se cola em demasia ao eterno Miles Davis, não podendo dizer-se que soa mal (porque Davis nunca soou) e além disso é um facto assumido por Douglas que este álbum é: "An Infinite Thank You to Miles Davis" e não se pode dizer que Douglas rompa com a sua individualidade nem que se deixa enredar pelo passado...No entanto nostalgia é um sentimento que pode surgir por exemplo em "Waverly".
Douglas não deve nada a ninguém. Tem potencial, tem "groove" e segue a sua carreira com confiança e orgulho, não merecendo as tão habituais criticas pela tal colagem a Davis, pois este álbum está repleto de qualidade e originalidade, mas há sempre "velhos do Restelo"...