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Nate Young Regression

2009
Ideal


Mesmo sendo este o primeiro disco a solo dele que ouço, não seria expectável que Nate Young criasse um tipo de som que se viesse a afastar consideravelmente daquele criado pelo seu grupo a full-time, os Wolf Eyes. O grupo de Ann Arbor, Michigan tem uma marca autoral demasiado vincada para que se consiga imaginar discos new age saídos dos dedos dos seus membros. Ou talvez saiam. Como disse, não é fácil seguir a enxurrada de lançamentos. No caso de Regression, porém, a sensação primordial é o de um regresso ao palco, algumas horas após um concerto de Wolf Eyes e respectiva celebração bem regada no camarim, para uma tentativa de extraír novos sons das máquinas. Sem a pressão e fúria do público para lidar.

A destruição já foi concluída, e há que procurar quais os circuitos que ainda se revelam capazes de emitir alguma luz. Permanecem os fantasmas da torrente abrasiva dos Wolf Eyes, agora como sombras difusas perante ecos metálico-cósmicos distantes que formam a base central de uma faixa (“Trapped”). Ou subordinadas a passos pesados e lentos, que estariam bem na banda-sonora de um filme de terror que leve a respiração pesada a sério (“Dread”). Verdade seja dita, estes compassares não vão propriamente a muitos lados, e enquanto em “Under The Skin” e “Sweating Sickness 2” os ruídos danificados e detonações em surdina proporcionam compensação adequada, já em “Sweating Sickness” depende de quanto se apreciar um pulsar estilo helicóptero, e um lado This Heat sem manipulação de fitas.

“Sleep Anxiety” volta a trazer as memórias das fitas de terror, sobrepostas a um drum n’bass chacinado e calcificado, mas igualmente com pouca variação. A última “Untitled” já se torna mais vivaça, estilo interior de avião, e contém os ruídos mais pesados do disco. Talvez uma provocação “O que podia ter sido”. Assim como assim, “Regression” ocupa apenas 28 minutos, e só por muito má vontade se poderia dizer que não é um disco bastante agradável de se ouvir. E só por muito boa vontade se poderia dizer que é preferível à fúria desbragada dos Wolf Eyes. Aceite-se a dicotomia, e decida-se se vale a pena ouvir o disco.


Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
08/09/2009