A magnifica capa de The Eternal, uma pintura do genial John Fahey, mostra uma espĂ©cie de redemoinho que parece engolir energia de várias cores e tonalidades, um turbilhĂŁo de electricidade e matĂ©ria. A imagem Ă© um excelente resumo daquilo que os Sonic Youth fizeram ao rock: engoliram-no vivo, abanaram com ele e cuspiram algo irreconhecĂvel e transgressor. E ao longo de mais de 20 anos deixaram-nos alguns dos mais excitantes testemunhos de desrespeito aos formalismos do rock. Mas Ă© cedo demais para falar deles como se o fim estivesse para breve.
Regressados Ă s lides independentes, assinados pela Matador, fecham a dĂ©cada condenada – Ă© lembrar o YK2 – com o mesmo sucesso de Murray Street e Rather Ripped - Sonic Nurse ficou alguns furos abaixo. Thurston Moore tinha avisado que queria um disco de “metal brutal, um disco super-pesado, esmagador” e de facto, em abono da verdade, agressividade Ă© o que nĂŁo falta a este The Eternal. Em “What We Know”, por exemplo, explosĂŁo de riffs com a marca inconfundĂvel dos Sonic Youth, a inquietude de quem parte para um novo disco com as premissas certas Ă procura do Santo Gral. SĂŁo sempre canções, Ă© certo, mas com guitarras se “afinam” sempre nas suas extremidades, com um doce e romântico alheamento das regras. E se na primeira parte do disco nĂŁo há uma Ăşnica canção abaixo de entusiasmante, na segunda parte temas como “Thunderclap For Bobby Pyn” ou “No Way” dĂŁo vontade de colocar The Eternal como um dos melhores discos da banda.
No final, com mais calma, percebemos que este The Eternal está distante do trĂptico perfeito EVOL / Sister / Daydream Nation; mas tambĂ©m a sorte que temos em, por estas alturas, os Sonic Youth existirem e insistirem nesta exploração sĂłnica que, com altos e baixos, tem rendido bons frutos desde 1982. No virar de mais uma dĂ©cada, The Eternal mostra uns Sonic Youth em perfeita forma, certĂssimos do passado que já foi e do futuro a seguir; o som continua a formar-se (e, felizmente, a transformar-se), as guitarras – estas – apontam ainda o caminho a tantos novos exploradores - e nem vale a pena pensar no dia em que se possam calar. Felizmente, os Sonic Youth sĂŁo uma daquelas bandas que se recusaram a acusar o peso do crescer atĂ© ser adulto – e ouvi-los Ă© como seguir na direcção correcta.