A natureza Ă©, desde há muito, usada na mĂşsica para nĂŁo sĂł descrever estados de espĂrito e acontecimentos diários, como para, graças ao uso das suas propriedades sonoras, amplificar, difundir, e atribuĂr novos significados a sons mais ou menos excĂŞntricos. E nĂŁo Ă© por dividir o seu tempo entre uma capital (Helsinquia), e um mega-metrĂłpole (Nova Iorque), que Vuk se abstĂ©m de usar a natureza como fio corrente de todo este álbum, onde exibe uma enorme proficiĂŞncia para a construção de melodias, e toca uma panĂłplia gigantesca de instrumentos. Respirem fundo: harmĂłnio, percussĂŁo, acordeĂŁo, xilofone, theremin, Rhodes, Hammond, kalimba, fĂłsforos, kantele, jew’s harp, piano, instrumentos de sopro, e guitarra, baixo e bateria na Ăşltima faixa do disco.
Mas, natureza à parte, os temas recorrentes em “The Plains” são os da solidão, do distanciamento voluntário ou involuntário, da redenção através do isolamento e da procura de novos horizontes. Frases como “I’ve reached the end of my will to sacrifice”, “I’m standing at the edge of a mountain/Looking down into the sea”, “I float at the center of a hidden world/I am the navel of the sea”, “But lying by the tracks in Arizona/At least I know that I’m alive” ou “You’ve finally led me to love the wanderer in me” levam a pensar nestes cenários. E são fortemente ajudadas, não só pelo tom folky excêntrico da voz de Vuk, como pela própria excentricidade da instrumentação. Só muito raramente ouvimos aqui uma guitarra, e quando esta existe parece rastejar depressa como uma cascavél. Leia-se a lista do parágrafo anterior, adicione-se-lhe uma percussão bastas vezes ribombante, e um ambiente apropriadamente escandinavo/gélido, e estar-se-à bastante mais perto dos sons de “The Plains”.
Vuk tem, obviamente, antecedentes. AtĂ© neste ano pode-se falar no excelente “Two Suns”, de Bat For Lashes, com quem partilha alguns bons tiques vocais. O lado naturalista remete para gente como Bjork, Mary Timony e atĂ© Neko Case na faixa-tĂtulo. Sem falar em algo, que talvez inexplicavelmente, remete para Suzanne Vega. E há muito mais no MySpace da artista. “The Plains” Ă©, em suma, graças a tudo isto, e a mĂşsicas como “Red Beard”, “Kiss The Assassin” ou “Gramophone & Periscope”, um belo e original meteorito que apareceu nos cĂ©us de 2009. NĂŁo vai quebrar nenhum gelo, mas vai fazer com que as queimaduras pareçam muito mais apelativas.