Depois de resolver os mais complexos enigmas de toda a história ficcionada, Dr. Robert Langdon (o herói de Anjos e Demónios) podia arriscar a apreciação de discos diabolicamente esotéricos como …And He Told Us to Turn to the Sun. Quem, com um alcance absolutamente irreal, decifra uma conspiração que visa destruir o Vaticano, podia chegar a alguma conclusão ao escutar o quarto (?) disco dos Father Murphy.
Como seria de prever, o contexto da banda não vem facilitar nada: envoltos num anonimato parcial, três pastorinhos de Torino deixam a canção à solta numa roda-viva, que tudo absorve, desde o êxtase estridente de Danielson ao fatalismo dos Angels of Light. Através destas canções prestigiadas pela grandeza, e nem tanto pelo método, a Itália mais atrevida demonstra que não anda a dormir na hora de acumular sabedoria out. Apesar de ser impenetrável, …And He Told Us to Turn to the Sun é colossal nas citações que faz e que incluirão também algumas bandas-sonoras do cinema de horror italiano (além de uma ou outra aproximação ao Ennio Morricone que fez da música d’ O Exorcista II o único aspecto apreciável do filme).
Noutra situação, eu, no melhor jeito Robert Langdon, podia arriscar uma introdução que explicasse o fundamento deste OVNI de contornos religiosos, mas …And He Told Us to Turn to the Sun deixa-me fora de jogo - é um álbum incondicionalmente bizarro e, por vezes, patético (a referência aos Devo – We Are Evil! Are We Evil? - surge num desses momentos). Tanto que chega a entorpecer a escrita de quem tenta obter coesão durante o confronto com uma quantidade insuportável de vozes estridentes e velhos órgãos de igreja. Rendo-me.