Cruz Vermelha sobre Fundo Branco foi um dos discos mais esperados dos últimos tempos no que toca à produção portuguesa. Ainda não tinham álbum de estreia e já Os Golpes alimentavam um burburinho, muito graças aos seus concertos e a uma canção, “A Marcha dos Golpesâ€. Ei-los agora com o disco de estreia cá fora.
Vários elementos apontam para outros tempos, que a gente da Amor Fúria entende como áureos no que toca ao rock português. É a capa com a Cruz de Cristo a lembrar os Heróis do Mar, a indicação “Estéreo†no CD, os maneirismos vocais de Manuel Fúria, que recordam, por vezes, António Manuel Ribeiro (quem diria que em 2009 uma nova banda lembrasse aos UHF?), as personas criadas pelos músicos – é preciso não ter medo do ridÃculo para se fotografarem a cavalo numa pradaria qualquer.
Tudo isto é pop, tudo isto é exagerado, tudo isto diverte e alegra. A ambição saúda-se, mas valeria de pouco se as canções não lhe correspondessem. Mas fazem-lhe justiça. Ouça-se a já citada “A Marcha dos Golpesâ€: riffs certeiros, bateria a puxar ao épico, gritos “Hey!†e palavras em jeito de epopeia (“A vida corre inteira pelas nossas mãos/A morte corre inteira pela força das nossas mãosâ€) – grande, grande canção.
Não voltam a tão altos nÃveis de alguma glória pop, mas há outros motivos de alegria. “Tarde Livre, Parte III†recria memórias dos namoros juvenis numa canção rock, lenta, pausada, e “Sobre fundo branco†arrisca um instrumental com guitarras entrelaçadas à Television. Cruz Vermelha sobre Fundo Branco não é a salvação de coisa nenhuma, muito menos de algo que não pede salvação – o rock português. Mas é um bom disco com uma mão cheia de canções acima da média face ao que por cá se faz.