Thalia Zedek nĂŁo dispõe de um timing exacto para invocar a tristeza. Os que lhe prestam maior atenção sabem de antemĂŁo que a sua voz, calejada pelos anos, canta um pesar que dificilmente pode ser planeado ou fabricado. Assim discorre Liars and Prayers, disco assombrado e vincadamente polĂtico, que devolve Thalia Zedek - sem filtros – aos que nĂŁo passam sem o registo áspero da anti-diva. Com mais vontade do que novidade, Liars and Prayers nĂŁo destoa do que se pudesse esperar de Thalia Zedek, numa altura que obrigava ao espairecimento dos esqueletos mantidos no armário durante o penoso mandato de Bush. Alinhadas numa marcha de transição, eis que as canções anunciam fins (“Circa the end”) e renovações, o frio de Invernos sabáticos e sopros mais amenos (“Wind”), a mentira republicana e um gospel que apela por Obama.
Além disso, Liars and Prayers anuncia um acrescento inédito: ao quarto álbum, Thalia Zedek passa a ter Band ao lado do seu nome. Aceita-se a opção, quando a própria referiu ser incapaz de tocar sozinha estas canções - tratam-se, afinal, de temas movidos pela intensidade de uma banda empenhada em estar à altura da songwriter central. Por empenho, entenda-se um baixo que faz adivinhar punhos cerrados, um piano muito mais violentado que acariciado, a garra de uma banda de sessão honrada com o facto de tocar para alguém admirável. No que respeita à força bruta que aguça os picos instrumentais das suas canções, Liars and Prayers rema eficazmente num só sentido e chega a deixar nódoas negras (muito por força da frontalidade do produtor Andrew Schneider, habituado a esta rotina no trabalho que desenvolveu com os Cave In e Unsane, entre outros). Até aà estamos bem.
O problema de tudo isto acaba por ser essencialmente um: Thalia Zedek, a poeta que personifica a mágoa, reside demasiado estática num ilhĂ©u formado por caracterĂsticas intrinsecamente suas. Liars and Prayers parece Ă s vezes colocar o nome Ă frente da relevância das canções. O derrape resulta em dĂ©bito e, a partir daĂ, apetece voltar a Been Here and Gone para verificar se sempre foi assim. NĂŁo foi – o debute na Matador era bem superior. Ou seja, Zedek continua a ser Zedek, ainda que submissa ao risco de Liars and Prayers ser disco sobre um tapete rolante que nĂŁo oferece muitas soluções.