Em Novembro de 2006 os Jesus The Misunderstood apresentaram-se ao vivo na Sociedade Guilherme Cossoul, em Lisboa. Nesse concerto, que teve a primeira parte assegurada por um Noiserv ainda verde, era apresentado o disco Thinking Too Much Increases the Risk of Smoking e na altura ficou no ar a impressão que esse disco era coisa para agradar à comunidade indie portuguesa. Esse concerto marcou também o inÃcio da colaboração da Vera Marmelo com o Bodyspace, que desde então nos tem cedido de forma graciosa as suas fabulosas fotografias, que entretanto se transformaram em verdadeiras memórias visuais de inúmeros concertos.
Esse Thinking Too Much Increases the Risk of Smoking mostrava já algumas boas ideias. Não era um documento definitivo, via-se a olho grosso ainda algumas arestas por limar, mas sentia-se também essa vontade de construir canções com pés e cabeça, com uma assumida sensibilidade pop e um impecável bom gosto nos arranjos. E ainda que os meios não fossem os ideais, os Jesus conseguiram esboçar um bom cartão de apresentação, suficientemente eficaz para chamar a atenção de algumas pessoas.
O novo The Crooners Are Dead sabe herdar essas caracterÃsticas positivas e, talvez fruto de um processo de amadurecimento, soa como um passo em frente. É um disco relativamente curto (é verdade que são só sete músicas), mas compensa com qualidade o que falta em quantidade. Desde os irresistÃveis coros em “The Day the Empire Fallsâ€, o modo como a melodia cavalga até chegar ao refrão em “Don't Waste Your Time†ou o precioso desenvolvimento da mais melancólica “There's No Place Like Usâ€, cada elemento é trabalhado com o detalhe de quem conhece bem a arte do recorte clássico da canção.
Os Jesus The Misunderstood são LuÃs Nunes (que a solo assina como Walter Benjamin), Manuel Dórdio, Miguel Pereira e Pedro Girão. Quase não há instrumentos fixos, pouco importa o que cada um toca, a banda funciona como grupo - e isto ao vivo é bem visÃvel, com os músicos a trocarem de instrumentos com a facilidade de quem adiciona amigos no facebook. É inevitável comparar estas músicas com as gravações de Walter Benjamin a solo, que partilham algumas caracterÃsticas (ambientes melancólicos, eficácia melódica assinalável), mas é justo destacar o trabalho dos Jesus enquanto banda, enquanto colectivo.
No momento em que Tiago Sousa anuncia o fim da Merzbau, este colectivo pode orgulhar-se de ter produzido uma das melhores edições da netlabel e, simultaneamemte, um dos melhores conjuntos de canções nacionais de 2009. E se estas músicas fazem todo o sentido por si mesmas, ao lado das fotos da Vera e do trabalho do Tiago confirma-se que esta é também uma irresistÃvel música de afectos.