No seu segundo registo de originais, o produtor brasileiro Gui Boratto não quis repetir as mesmas ambiências de Chromophobia, um disco de tecno minimal de tons mais frios que quentes, de faces nem sempre fáceis e atraentes à primeira vista. Take My Breath Away é o total oposto, pois levou com um mar de melodias upbeat e calorosas. É um disco de esperança; de tecno-esperança. A capa parece apontar para um universo de contradições (o ar respirável apenas por máscaras numa paisagem de flores e céu azul) mas dentro, o disco é só positivismo.
Talvez por isso – mas nĂŁo sĂł, este disco Ă© mais acessĂvel do que qualquer coisa que Gui Boratto lançou atĂ© hoje. É um disco que poderá agradar tanto aos seguidores habituais da mĂşsica electrĂłnica como aos que dizem que dessa água nunca beberĂŁo. Afinal de contas, Gui Boratto está neste disco mais prĂłximo da pop do que se poderia imaginar. Há batidas para todos os gostos; mais incisiva e directa em “Take my Breath Away”, mais contemplativa em “Colors”, mais complexa em “Opus 17”. O mesmo quase se podia aplicar aos sintetizadores, Ă s guitarras ou aos pianos que conferem a Take My Breath Away uma profundidade que fazem deste um disco praticamente inesgotável. O beat nĂŁo Ă© aqui inevitável, mas sim uma inevitabilidade: Gui Boratto continuaria a ser muito interessante mesmo sem fazer tecno porque Ă© um excelente paisagista. SenĂŁo ouça-se a luminosa “Les Enfants”, teia multicolor com olhos no horizonte ou a intemporal “Besides” – com guitarras a fazer lembrar New Order.
A construção de temas como “Take my breath Away” mostra um Gui Boratto minucioso, ambicioso, atento. Exibem um produtor interessado em romper as barreiras e limitações do tecno, mostrando as suas capacidades a cada tema que passa – curiosamente chegando-se perto da pop. Libertador (da mesma forma, vá lá, que algumas personagens criadas por Irvine Welsh em Porno o pretendem ser), sempre com um pé à frente do outro, Take My Breath Away tem carimbo próprio; não é fruto de um trabalho maquinal e bruto, antes objecto de afecto para Boratto e potencialmente para quem o agarrar. É que vale mesmo a pena deitar-lhe a mão e ouvidos. Porque dificilmente o tecno minimal soará muito melhor do que isto em 2009.