Visto à primeira, 11 minutos não dá para muita coisa. Não dá para fazer uma longa viagem de carro, não dá para ter um sonho mais profundo (ou isso pensamos nós), não dá sequer para se despachar a maior das tarefas diárias comuns. Mas para Rafael Anton Irisarri deu para tudo. O EP Hopes and Past Desires é trabalho de cirurgião (de luvas postas), meticulosa construção de paisagens de uma beleza rarÃssima. Minimalista até ao osso, preciso como o mais manual dos afazeres, Hopes and Past Desires é um esforço dedicado; imaginamos – ou gostamos de imaginar – que Rafael Anton Irisarri o tenha como um filho.
Existem apenas dois capÃtulos – mas aqui “apenas†é só ilustrativo. O primeiro, “Hopes and Past Desires†faz-se de cadências melancólicas de instrumentos de cordas (ou da criação maquinal dos mesmos), teclados e de saliências electrónicas. Joga num admirável misto entre o que é orgânico e o que é fabricado, gerado por fonte não humana; serve-se de pequenas minuciosidades para construir algo de maior. Tem um certo toque nipónico mas tem uma linguagem universal. A linguagem da beleza. De plataforma de e para os sonhos.
Mas há ainda mais e melhor. Muito melhor. “Watching as She Reels†é uma impressionante tela que obriga a um profundo mergulho. Teclados, cordas e um pequeno mas melódico fio de ambiente cruzam-se e entrecruzam-se até que não haja mais dúvidas da sua perfeição; até que não haja mais dúvidas do brilho que carrega. São sete minutos mas podiam ser 17 e não vinha daà nenhum mal – antes pelo contrário. É, afinal de contas, prova necessária (uma de muitas) para legitimar Rafael Anton Irisarri como artesão dos sons, construtor de sonhos e de paisagens naturais. Daqui só se esperam grandes coisas.