Depois de em 1996 Derek Bailey ter gravado com DJ Ninj o disco Guitar, Drum’n’bass (edição Avant) poucas coisas nos poderão surpreender. Este Zufall não anda longe desses ambientes, dessa confrontação entre electrónica e “free improv”, mas naturalmente já não consegue ter esse carácter radical e transcendente. E além dessa ausência do factor surpresa, há neste projecto um diálogo assumidamente mais fluído, que não assenta apenas no simples confronto, há um encontro de vontades, uma partilha verdadeira.
Akosh S. e eRikm têm neste Zufall uma tentativa de mediação entre linguagens que pouco se conhecem, que pouco falam entre si. Historicamente afastadas, foram poucas as tentativas de encontro, a própria natureza dos instrumentos leva-os para caminhos muito distintos – o único ponto em comum será um certo fascínio por parte das vanguardas. Akosh S. vive no universo do jazz e da improvisação, com colaborações com figuras da cena free jazz europeia, como Joëlle Léandre, Róbert Benkó ou Denis Charolles. O francês eRikm é um explorador das electrónicas "giradisquistas" e tem colaborado com gente como Luc Ferrari, Christian Marclay ou FM Einheit.
Neste disco Akosh Szelevényi serve-se de vários instrumentos de sopro e não só - clarinete baixo, saxofone tenor, saxofone soprano e sinos são alguns dos instrumentos utilizados; eRikm utiliza “turntables”, “samplers” e outros dispositivos electrónicos. Em diálogo, os instrumentos desenvolvem a pesquisa de uma meta-linguagem, numa fusão que tem a sua origem nas estratégias da livre improvisação desde as pioneiras explorações electrónicas dos AMM.
Naturalmente este Zafull não será o mais acessível dos discos, mas neste encontro Akosh S. e eRikm conseguem criar uma base de compromisso, um documento equilibrado onde há cedências de parte a parte, onde os instrumentos procuram o diálogo, acabando por funcionar numa verdadeira união de discursos instrumentais. O resultado deste encontro de instrumentos e linguagens é francamente recompensador e, mais do que uma sobreposição de vozes individuais, sobra uma música que questiona os limites da transdisciplinariedade.