bodyspace.net


Predator Vision & Sun Araw Split

2009
Not not fun


Actualmente a tendência das músicas livres mais bastardas parece passar essencialmente por um imaginário apoiado numa herança cultural dos anos 80 e 90 cuja memória colectiva tende a acobertar embaraçadamente. A abordagem persiste em existir em cérebros “fritos†algures entre os gloriosos filmes de acção do Schwarzenegger e do Van Damme, e as comédias paradisíacas pós-Os Deuses Devem Estar Loucos (melhor comédia de sempre?). Uma iconografia descartável que assenta maravilhosamente bem à celeridade da cassete com som de sala de ensaios. Simetria clara com as velhinhas VHS regravadas em SPLP, e tão em consonância com um certo apreço tropicalista que tem vindo a lume com cada vez mais incidência.

Comportando esta tendência, o split de Predator Vision e Sun Araw é paradigma das tardes ociosas em casa do vizinho a rever pela enésima vez o Comando. Projecto onde pontifica Matt Mondaline dos Ducktails, Predator Vision ocupa o lado A do vinil com Real Aliens perfeitamente imiscuído na selva densa onde caçava a estranha criatura de visão por infra-vermelhos. Stoner dos trópicos poderia ser uma definição adequada para este rock psicadélico encharcado em delay e que resgata à memória os ensaios da banda do vizinho estranho que ecoavam disformes por toda a rua. “Hey Mandala!†de Sun Araw (projecto solitário de Cameron Stallones dos Magic Lantern) recorre aos mesmos propósitos psicotrópicos em formas mais voláteis. Próximo do ritualismo drone do seu projecto principal, vai delineando texturas densas com pequenos apontamentos de voz xamânica e saxofone líquido até metade da sua duração, para desembocar num irresistível groove de baixo, a criar um manto para solo de guitarra cheio de wha-wha (claramente setentas) e teclado festivo.

Auto-celebratório e deliciosamente modesto na sua displicência, este split é sintomático do regozijo que pérolas como Bloodsport ou Fim de Semana com o Morto incutiam, antes da descoberta de que o cinema, afinal, não se resume a diversão inconsequente. Reside aí o seu maior valor, tal como as tardes de Domingo no sofá.


Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
20/03/2009