Depois de uma muito bem sucedida aventura com a actriz/cantora Zooey Deschanel na dupla She & Him, M. Ward regressa aos discos de originais com um desafio principal: de provar a consistência de um disco como Post-War e de pelo menos estar à altura das expectativas. Mais vale dizê-lo já: o objectivo foi alcançado, porque Hold Time é muito provavelmente o melhor disco que este norte-americano lançou até aos dias de hoje. De forma despretensiosa e simples (parece quase fácil nas suas mãos), M. Ward conseguiu um conjunto de canções onde tudo faz para que se possa reflectir a lustrosa paisagem musical americana.
As canções estĂŁo diferentes, no entanto. Há mais luz neste disco, há mais esperança nas entrelinhas ainda que M. Ward se possa estar a debater com temas perecĂveis e circunspectos. O melhor exemplo disso, para alĂ©m da inicial “For Begginers”, sĂł pode ser “Rave On”, com a participação da encantadora Zooey Deschanel: uma canção intemporal, de sol a bater na cara, com a dose certa de saudosismo para nĂŁo fazer transbordar o copo. EstĂŁo aqui todas as boas razões para perseguir o trabalho de M. Ward nos prĂłximos tempos: os arranjos, o texto, a profundidade, a largura musical, a AmĂ©rica em suspenso.
Hold Time segue uma toada serena e paisagista mas admite interferências declaradamente rock: “Never Had Nobody Like You”, também com Zooey Deschanel, resvala para guitarras proeminentes e pianos cabaréticos, algum feedback e muita atitude. Mas o disco pertence à sua qualidade acústica, à delicadeza das guitarras não eléctricas e à candura ou pelo menos a algo intermédio: “Jailbird” é enternecedora na sua fragilidade, “Fisher Of Men” perde-se de amores entre violinos e sofre um contágio melodioso admirável. Mas mais do que valer por uma ou duas canções separadamente, Hold Time vale pelo seu conjunto, pela sua coesão. É, sem sombra para dúvidas, um dos melhores discos de canções que 2009 verá até ao final dos seus dias.